CORRESPONDÊNCIAS

Sobre o incêndio nos concelhos de Tavira e são Brás de Alportel

(do nosso correspondente em Tavira)

2012-incendios em taviraDeflagrou 4ª feira passada um incêndio de grandes proporções na Serra do Caldeirão, mais propriamente na zona de Cachopo, concelho de Tavira. Rapidamente, ajudado pelo vento, correu para Sul, em direcção à cidade de Tavira, chegando à Assêca, às portas da cidade, e para oeste, tendo chegado a 2 quilómetros de São Brás de Alportel. Deslocados para o local mais de mil bombeiros com o correspondente arsenal de meios de combate, considerando o ministro Miguel Macedo serem “os meios disponíveis os suficientes e que não é preciso um reforço”, isto numa reunião acontecida na 6ª feira de madrugada com representantes da Protecção Civil. Dos 1021 operacionais, 755 são bombeiros, apoiados por mais de 198 veículos e dez meios aéreos, segundo informação da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). Apesar de todo este aparato de homens e meios, o incêndio lavrou a seu belo prazer por toda a zona de serra e barrocal, quase chegando à zona litoral.

Críticas, logo se fizeram ouvir pelos presidentes das duas edilidades. “Houve ‘alguma descoordenação dos meios’ que, em certos locais, chegaram com ‘atraso em relação à propagação das chamas, disse ao Expresso o autarca de Tavira, Jorge Botelho”. António Eusébio, de São Brás, teve de se deslocar a Cachopo, onde estava instalado o Posto de Comando Operacional, pois já o fogo estava no seu concelho e não havia ninguém para o combater. Também em muitas zonas foram as próprias populações que tiveram de se defender das chamas, com os seus parcos meios, movidos pela solidariedade entre vizinhos dos vários montes e localidades afectadas, onde, durante toda a tarde de 5ª feira, não chegou a aparecer nenhum daqueles operacionais.

Até ao momento, são já enormes os prejuízos causados por este fogo. Segundo o responsável da Associação de Defesa do Ambiente e do Património Cultural de São Brás de Alportel, Gonçalo Gomes, indicou, “uma parte significativa das manchas que arderam correspondiam a manchas de sobreiral, não só de São Brás, mas também na fronteira com o concelho de Tavira”, A contabilização no concelho de São Brás ainda não é possível porque o “incêndio está a progredir infelizmente tão rapidamente, não há forma de manter uma actualização”. Sendo que estas manchas de sobreiral seriam das melhores do País. Deles dependiam alguns pequenos produtores, havendo muitos para quem este era o seu único sustento. Além destes, várias populações foram afectadas, tendo muitos dos seus animais e culturas sido completamente queimados, ficando sem nada. Pequenas pérolas paisagísticas, como o Pego do Inferno e Moinhos da Rocha e outros patrimónios naturais, foram também fortemente afectadas, demorando bastantes anos até que retomem o seu esplendor. A lamentar também cinco bombeiros feridos, dois em estado mais grave, na sequência de um acidente com um dos quatro veículos da protecção civil que ficaram cercados pelas chamas em Vale do Lugar do Moreno, no concelho de Tavira.

Por todo o Algarve se vê uma nuvem enorme de fumo, cobrindo o sol de Silves a Cacela. As cidades, vilas e aldeias, mais próximas dos focos de incêndio, estão cobertas de cinzas e o ar está quase irrespirável devido ao cheiro a queimado que grassa por todo o lado. De assinalar a onda de solidariedade que se gerou para auxiliar os bombeiros, tanto em apoio humano como de géneros: água, leite, iogurtes, sandes, etc.

Toda esta situação não acontece por um capricho da natureza que ora vira o vento a Sul, ora o vira a Oeste ou Norte. Acontece sim pela incúria dos poderes públicos, pelo desinvestimento na limpeza e ocupação das matas, pelo desleixo de não cumprimento das leis que esses poderes públicos aprovam, mas não cumprem ou fazem cumprir.

Todos estes fogos não são por acaso, mas para satisfazer os interesses instalados dos grandes madeireiros e no caso presente dos grandes corticeiros, que assim conseguem manter os preços em níveis de maior e mais rápido lucro. Toda a descoordenação não acontece por acaso, mas para satisfazer interesses instalados dos proprietários das aeronaves, que como se sabe quanto mais voarem, mais ganham. Toda esta situação sazonal não acontece por acaso, mas para manter toda uma situação de opressão e exploração de um povo. A reflorestação com eucaliptos, para satisfazer as grandes necessidades da indústria da celulose, em detrimento de outras formas de economia mais sustentável, como o montado que se praticava em grande parte daquelas zonas agora incendiadas, será de certeza a resposta que os tais poderes públicos irão implementar, não querendo saber que essa seja uma medida que a médio prazo se torna estéril, como também não quer saber das populações que vivem daquela forma de vida nem daqueles que poderiam passar a viver e assim se vêem obrigados a partir destas paragens, para então os senhores de terras poderem explorá-las a seu belo prazer sem ninguém que se lhes oponha.

Tal como noutros aspectos da vida actual, também aqui se vê a natureza de classe de quem dirige o País e a resposta continua a ser a mesma: derrubamento do Governo de Coelho/Portas e formação de um Governo Democrático Patriótico.