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CORRESPONDÊNCIAS

FINEX TECH - A luta das operárias e a questão política do encerramento da fábrica

(do nosso correspondente na Maia)

trabalhadores da finextech 01Se na Cerâmica de Valadares, em Gaia, o lay-off foi usado durante todo o tempo sobre uma parte dos trabalhadores, os operários da produção (o pessoal dos escritórios e armazéns, manteve-se ao serviço até serem “mandados” de férias na última ocupação), na Finex Tech, na Maia, o lay-off tem sido usado sobre todos os trabalhadores, operárias da produção e pessoal de apoio, mas durante apenas parte do tempo: desde há dois anos e previsto até 19 de Setembro a 2.ª e a 3.ª de cada semana de trabalho são de lay-off.

Mas se na forma de utilização do lay-off pelas duas empresas as diferenças são evidentes, já na estratégia empresarial o lay-off cumpre o mesmo papel: ganhar tempo e dinheiro à custa de sacrifícios dos trabalhadores. Ganhar tempo para fechar a fábrica, e não com objectivos da sua recuperação, como os patrões anunciam, mas que não passam de um alibi para a respectiva aprovação pelo Estado.

As operárias da Finex Tech tiveram que trabalhar até ao último minuto para concluir a última peça da encomenda que, como todas as outras, tinha de ser impreterivelmente carregada naquele dia, no caso, o último dia antes do início das férias. E foram de férias. Já estavam a trabalhar apenas três dias por semana com a perca de 50€ mensais além dos cerca de 100€ de “prémios” que, antes do lay-off, habitualmente recebiam se não faltassem. É preciso ainda dizer que a grande parte das operárias, as costureiras e algumas outras profissões, apesar de os produtos serem “técnicos”, quer dizer de grande complexidade, venciam o salário mínimo.

Mas, a menos de uma semana do reinício do trabalho, receberam uma carta dizendo que escusavam de regressar ao trabalho quando acabassem as férias (dia 16), e que não se preocupassem que continuariam a receber salário.

Só que todos se lembravam de quando encerrou a Finex e as melhores foram transferidas, sem perda de antiguidade, para a nova empresa, a Finex Tech. É que a Finex Tech tinha surgido de um falhanço da estratégia da multinacional finlandesa de “deslocalizar” toda a Finex: dada a complexidade de uma parte dos produtos (fatos para motards), as tentativas de os produzir noutros locais resultaram na produção de lixo. E, na altura, só com uma forte luta, os direitos das operárias despedidas e das transferidas foram garantidos, nomeadamente as indemnizações às despedidas e a antiguidade às transferidas. Por isso, foi normal exigir como garantia da antiguidade das trabalhadoras transferidas, bens reais, já que, para mais, a empresa deixava instalações próprias (que as vendeu para o centro comercial Maia Jardim) e passava a instalações alugadas. Assim, passou a constar dos activos da Finex Tech uma vivenda no Algarve no valor de cerca de 1,3 milhões euros.

Ora, essa propriedade, que servia de garante às indemnizações no caso de encerramento, foi vendida. Por outro lado foi pedida a insolvência da empresa e esta foi concedida.

Não acontece que a insolvência só é concedida no caso de existir uma evidência de que os activos não cobrem os passivos? Ora, sem despedir, a empresa não tem obrigação de indemnizar; como pode estar insolvente se tem nos seus activos 1,3 milhões de euros? Onde foram parar esses 1,3 milhões? Aqui convém dizer que a Finex Tech está para o grupo finlandês L-Fashion Group Oy como a Qimonda estava para o grupo Qimonda: o grupo é o fornecedor das matérias-primas e o único comprador. Ou seja, os lucros e os prejuízos declarados pela Finex Tech são uma ficção, são os que o grupo quiser, sem qualquer necessidade de interferência de terceiros. Assim, percebe-se facilmente de que forma e onde poderão ter ido parar os lucros, para agora lhe ser concedida a insolvência. Num outro ponto também se percebe o como e o porquê da justificação “não há encomendas”.

Este o quadro geral que levou as trabalhadoras à luta. Primeiro, apresentando-se ao serviço no fim das férias e, perante a porta fechada, fazendo o horário de trabalho à porta da empresa ou em movimentações para alcançar os objectivos. A exigência era simples: “queremos os nossos direitos!”.

Claro está que este problema levanta inúmeras questões políticas. De política económica e de política geral. Às operárias, por si sós e vendo apenas o seu próprio interesse imediato como trabalhadoras, é-lhes fácil perceber a enorme fraude em que está a consistir este processo. O objectivo da Finex Tech, para os finlandeses que pregam a moralidade aos povos do Sul, estava traçado logo à nascença: manter o mercado abastecido enquanto, na luta com os concorrentes, desenvolviam processos em que a preparação especial das operárias deixa de ser necessária (mais controlados e automatizados) para poderem, em cada momento, escolher o lugar do mundo onde a soma dos custos da mão-de-obra e os custos dos transportes dos produtos e das matérias seja menor. E este plano era conhecido de todos. Ainda assim o lay-off foi autorizado. Temos, então, uma Europa em que fundos dos descontos dos trabalhadores para a segurança social de um país em insolvência são usados no apoio à deslocalização de uma empresa de um país que se encontra desafogado… Porquê a segurança social financiar isto? Porquê aceitar ser peça numa cadeia de produção cujo controlo completo está no exterior sem sequer estabelecer qualquer espécie de garantias?

Arménio Carlos foi ao plenário dos trabalhadores da Finex Tech dizer-lhes que estavam a lutar pelo direito ao trabalho, e não para exigirem os seus direitos, ou melhor explicado, dizer-lhes que para exigirem os seus direitos teriam primeiro de obter uma superioridade moral conseguida pela reclamação do “queremos trabalhar”. No fundo, uma não saída, para além de escamotear que o “direito ao trabalho”, em regime capitalista, é o direito a ser explorado para conseguirem, pensam, a condescendência do governo burguês e dos capitalistas. As operárias não precisam nem querem a condescendência da burguesia e demonstraram-no bem com as perguntas com que confrontaram a burocracia sindical e as exigências que demonstraram publicamente.

Foi aprovado pelo plenário manter a presença das operárias à porta da fábrica durante o período de trabalho e, se nada avançasse, realizar uma manifestação em frente à embaixada finlandesa. Entretanto, o gestor judicial veio anunciar a decisão de encerramento da empresa.

Os ingredientes estão colocados, e a consciência das operárias vai avançando. Importa agora que tudo isto se traduza em novas formas de organização que imponha novas formas de luta por objectivos políticos mais vastos, como o do derrube deste governo.


VIVA A JUSTA LUTA DAS OPERÁRIAS DA FINEX TECH!
MORRA O GOVERNO VENDE-PÁTRIAS PSD/CDS!
POR UM GOVERNO DEMOCRÁTICO PATRIÓTICO!


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