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CULTURA

Dois Acontecimentos Culturais Academia de Alhos Vedros promoveu Feira do Livro e Exposição de Mário Albano

 Dois Acontecimentos Culturais Academia de Alhos Vedros promoveu Feira do Livro e Exposição de Mário Albano

              “Só a Arte tem o poder
                        De a todos nós transmitir  
                   O que todos podem ver,  
                       Mas poucos sabem sentir.”

                                          António Aleixo*

Quem conhece minimamente a realidade cultural e associativa da margem esquerda do estuário do Tejo sabe da ostensiva hostilidade do poder local “democrático” à intervenção sociocultural progressista e resistente à indiferença instituída, que tem sido subalternizada e mesmo sufocada pelos revisionistas do P”C”P.

Temos um exemplo claro na experiência e na originalidade da Feira do Livro de Alhos Vedros, que a dinâmica Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro (fundada em 1936) promove desde 1972.

Na recente edição da “sua feira”, realizada, com êxito, num local (Largo do Coreto) que facilitou a criação de um autêntico clima de festa popular (uma atmosfera onde, curiosamente, ecoaram os merecidos aplausos às belíssimas baladas e canções interpretadas pelo grupo de Tony Costa) e conseguiu contribuir para a elevação da consciência político-cultural das camadas trabalhadoras do concelho da Moita, o veterano animador e respeitado camarada Leonel Coelho, que acabava de autografar mais um título [“Marcas dos Chãos” (2013)] a enriquecer a sua longa jornada poética e cívica, recordou: “Barreiro, Baixa da Banheira, Moita, Lisboa. Um mar de jovens! Era a geração de Ribeiro Santos. Autores proibidos e a PIDE a farejar. Na primeira e nos heróicos anos seguintes, foi um corrupio de gente nossa a vir até cá, ver o fenómeno de Alhos Vedros. Era o desafio do ano, de todos os anos…”

E, com palavras humaníssimas, como é decerto a atitude de quem alimenta a cumplicidade fraterna dos livros, acrescentou: “A todos os que estão, aos que partiram e, até, aos que não aguentaram a ‘nortada’, o nosso agradecimento pelo estímulo e os nossos braços sempre abertos!”

Ainda a este respeito, seria injusto não registar aqui, mesmo de forma “telegráfica”, o profundo significado do momento em que, na noite de 30 de Junho, Leonel Coelho e os restantes dirigentes da Academia de Alhos Vedros homenagearam, na presença, muitíssimo emocionada, da sua querida companheira Filomena, a memória do saudoso camarada Artur Antunes, que foi, igualmente, director da colectividade, e ao qual a entidade organizadora dedicou a última (47.ª) edição da Feira do Livro.

É tempo de dar particular atenção aos camaradas que, no vasto e heterogéneo distrito de Setúbal, se distinguiram nas suas actividades comunistas e altruístas (inclusive, no âmbito do movimento associativo e sindical) e e retirar os seus nomes da opacidade do silêncio, mais ou menos sepulcral. Neste sentido, deixou de haver desculpa para adiar “sine die” a próxima e justíssima Homenagem do Partido ao querido camarada Artur, envolvendo (mais) profundamente as estruturas regionais e locais para concretizar esta iniciativa. Dela falaremos, com detalhe, um dia destes!

Importa, uma vez mais, destacar a missão e os desafios da prestigiosa Feira do Livro de Alhos Vedros, que tem promovido, paralelamente, múltiplos eventos artístico-culturais, como, entre outros, concertos, colóquios e exposições de reconhecida qualidade.

Neste contexto, foi Inaugurada no dia 28 de Junho, num precioso imóvel de interesse municipal (mais precisamente, na Capela da Santa Casa da Misericórdia daquela Vila, do concelho da Moita), a interessantíssima mostra “António Aleixo em Madeiros”, da autoria do distinto escultor Mário Albano Gonçalves, que é, para além de tudo o mais, nosso fraternal camarada.

O artista, que já participou em numerosas exposições (individuais e colectivas), nutre um carinho especial por António Aleixo (1899-1949), um autor pelo qual algumas figuras notáveis da Cultura literária (Miguel Torga e José Régio, por exemplo) tiveram, no entanto, admiração e respeito. Move-o a paixão pelo domínio das belas artes e, em especial, pela textura densa da madeira. De facto, são mais de 40 peças, elaboradas de formas diversas, onde foram gravados poemas e desenhos relacionados com o legado criativo do genuíno poeta popular, por vezes (muitas vezes) subestimado.

Aos que, particularmente, já temos idade bastante para termos vivido os últimos anos sombrios da ditadura fascista e da “época do operariado mineiro das Minas de S. Domingos, no concelho de Mértola, das do Lousal, em Grândola, das Minas da Panasqueira, na Covilhã, e das lutas operárias do Barreiro”, como sublinha o texto admirável da exposição, custa-nos compreender a falta de sensibilidade estética e humana de certos imbecis que, perante o verdadeiro encantamento destes notabilíssimos trabalhos, que formam uma espécie de “ponte” entre a produção escultórica e a poesia, não conseguem perceber a impressão indelével da força criadora transmitida pelo artista, esse discreto escultor e respeitado mestre que é Mário Albano.

* António Aleixo (1899-1949),“ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO”, vol. II, pág. 105;
Lisboa, Editorial Notícias, 10.ª ed., 1999

Fernando Firmino


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