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EDITORIAL

Ontem em Orlando; Um Dia Destes em Lisboa…

No passado domingo à noite, na cidade de Orlando, na Florida, um cidadão norte-americano, nascido em Nova Iorque, de nome Omar Mateen, com 29 anos de idade, filho de afegãos, depois de invocar a sua qualidade de jiadine do Estado Islâmico, entrou na mais conhecida discoteca da cidade, armado de pistola, de uma espingarda de guerra A15 e de um saco de munições, tomou a discoteca e fez reféns durante cerca de três horas, matou 50 pessoas e feriu outras 53, praticando assim o mais poderoso e demolidor acto de guerra dos povos árabes e muçulmanos, agredidos pelo imperialismo ianque, no próprio território do imperialismo opressor, depois de 11 de Setembro de 2001.

No primeiro discurso à nação sobre o ataque à discoteca Pulse de Orlando, Barack Obama falou de um “acto de terror e de ódio”, levando o caso para o quadro de uma luta contra a autodeterminação sexual, na medida em que a discoteca em causa era conhecida por ser frequentada por pessoas lésbicas, bissexuais, transgénero e intersexo, conhecida por discoteca LGBTI, na sigla actual.

Nas suas primeiras palavras aos súbditos norte-americanos, faltou manifestamente a Obama a seriedade e a coragem para reconhecer que o mais poderoso imperialismo mundial – o imperialismo ianque – acabava de ser derrotado no seu próprio covil por um jovem de 29 anos sozinho. E, ainda por cima, um jovem que havia sido submetido, antes e por duas vezes, a interrogatório do FBI, a polícia de investigação criminal dos Estados Unidos da América, sem que aquela polícia tivesse podido deter o jovem jiadine e impedi-lo de consumar o seu acto de guerra.

É manifestamente impossível que uma operação militar da natureza e envergadura da que foi levada a efeito em Orlando pelo jovem Omar Mateen tenha sido planeada, preparada, organizada e executada por um só homem. Não espanta pois a incredulidade de Barack Obama nas primeiras palavras dirigidas à nação ianque, quando lhe custava reconhecer a vulnerabilidade e incapacidade dos Estados Unidos para abortar um acto de guerra daquela natureza, mesmo quando o presumível agente tinha estado por duas vezes nas mãos do FBI, e estava desde 2013, nos últimos três anos, sob vigilância da polícia.

A Obama não restou mais nada senão falar de terror e de ódio e de ordenar a aplicação do estado de emergência em toda a Florida.

Enquanto Obama tartamudeava e não reconhecia o ataque à discoteca Pulse como um acto de guerra – um acto de terrorismo, na linguagem da Casa Branca – contra o imperialismo americano, os dirigentes do FBI, no mesmo instante em que o presidente se dirigia ao país, respondiam aos jornalistas no seguinte tom: “Se consideramos isto um acto de terrorismo? Totalmente!”

E tudo isto aconteceu a escassos seis meses do massacre de São Bernardino, na Califórnia, quando um casal de paquistaneses, fortemente armado, tendo jurado fidelidade ao Estado Islâmico através de uma publicação no facebook, atacou um centro de saúde pública naquela cidade onde pululam portugueses, matou 19 pessoas e feriu outras 21.

Só quem for cego – e não há pior cego do que aquele que não quer ver – insistirá em não compreender que hoje todas as guerras são globalizáveis e mundializáveis: as guerras do imperialismo americano e europeu no Magrebe, no centro de África, no Oriente Médio e no Afeganistão não só não têm fim, como são travadas em teatros de operações cada vez mais vastos, cada vez mais mundializados, e chegará inevitavelmente aos territórios nacionais e super-defendidos dos próprios imperialistas.

A conclusão a extrair de tudo quanto antecede é apenas uma e impõe-se pela natureza dos factos: nos dias de hoje, as guerras movidas pelo imperialismo contra os povos do mundo assumem necessariamente duas frentes: uma frente nos territórios dos povos agredidos pelo imperialismo e outra frente no território dos países imperialistas opressores.

A própria guerra é agora globalizável, e todas as guerras são na actualidade mundializáveis. Por outro lado, cada guerra imperialista transformar-se-á em guerra civil revolucionária no país onde for desencadeada, e todas as guerras imperialistas transformar-se-ão – no interior dos próprios países imperialistas – em guerras civis revolucionárias. Notem que os ataques desferidos pelos jiadistas islâmicos em Londres, em Paris, em Bruxelas, em Madrid, em São Bernardino, na Califórnia, na maratona de Boston, em Orlando, na Florida, são actos de guerra levados a cabo por nacionais dos próprios países imperialistas – ingleses, belgas e americanos – contra o poder imperialista dominante nos seus próprios países. Estes actos de guerra, são actos de guerra civil revolucionária interna, não externa.

E ontem, dia 13 de Junho de 2016, um cidadão francês, Larossi Abballa, invocando agir ao abrigo do Estado Islâmico, matou à facada, na cidade de Maganville, o chefe da polícia de Mureaux, Jean Baptiste Salvaing, e a mulher deste, também polícia, antes de ser morto pela tropa francesa. François Hollande não teve rebuço em declarar como terrorista islâmico o ataque de Maganville.

Que o imperialismo ianque ou gaulês sofram estes ataques militares demolidores nos seus próprios territórios é coisa compreensível, visto que constituem apenas uma resposta militar às agressões militares do imperialismo americano e francês aos povos oprimidos e explorados do centro e do norte de África, do Próximo e do Médio Oriente e do Afeganistão.

O que não se compreende nem se aceita é que o governo português, no seu papel de lacaio do imperialismo, atrele o povo de Portugal às guerras do imperialismo e coloque o nosso País e o nosso Povo na situação de sofrer ataques retaliadores dos povos oprimidos, explorados e agredidos pelo imperialismo.

Portugal não tem nenhum interesse de nenhuma natureza em enviar tropas mercenárias para defenderem os interesses do imperialismo francês no Magrebe e no centro de África, ou para defender os interesses opressivos e exploradores do imperialismo americano no Próximo e no Médio Oriente ou no leste da Europa, como senilmente o têm estado a fazer.

Mais cedo ou mais tarde, mais dia menos dia, os povos oprimidos pelas nossas tropas mercenárias, lacaias do imperialismo americano, francês, inglês ou europeu, irão levar a efeito no território português o mesmo tipo de actos de guerra que têm desencadeado e continuarão a desencadear nos países imperialistas. Portugal é aliás o único país da Europa que tem estado a fazer de lacaio dos imperialistas: é o único país cujas forças armadas estão cada vez mais colocadas ao serviço do imperialismo americano, francês e europeu, sem ter nem defender qualquer interesse nessa submissão. Está lá, porque os governos portugueses são governos de lacaios do imperialismo, são governos de traição nacional, são governos de vende-pátrias.

Mais dia menos dia, Lisboa chamar-se-á São Bernardino, Orlando, Boston, Paris, Bruxelas, Madrid ou Londres.

Não porque sejamos um país imperialista, mas apenas porque os nossos governos são governos lacaios a soldo dos imperialistas.

Ora, o povo português deve opor-se frontalmente à política governamental de submissão ao imperialismo, porque essa política antipatriótica e antipopular não defende nenhum interesse legítimo do povo português e atrela o nosso Povo e o nosso País à política de exploração e guerra dos imperialistas.

Ergamo-nos como um só homem contra a política governamental de submissão ao imperialismo americano, francês e europeu, porque a nossa política é de paz e de amizade com todos os povos e nações oprimidas do mundo.

Se não queremos ter em Lisboa o que os belgas já tiveram em Bruxelas, os ingleses em Londres, os franceses em Paris, os espanhóis em Madrid e os americanos em Orlando, então opunhamo-nos firmemente contra o envio de tropas mercenárias portuguesas para o Chade, para o Mali, para o Iraque e para o Afeganistão! A questão põe-se em lutarmos agora contra o governo de traição nacional; não em nos queixarmos depois.

14.06.2016

 

Arnaldo Matos


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