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EDITORIAL

Uma Demissão Tardia e Inconsequente

                                                                                                               Arnaldo Matos

  

A demissão do ministro da Defesa, Dr. Azeredo Lopes, enquanto imposição da responsabilidade política que deveria ter imediatamente assumido em consequência do roubo do material de guerra praticado nos paióis nacionais de Tancos, peca por tardia e manifestamente contraproducente. 

E a nomeação de um novo ministro da Defesa, na pessoa do Dr. João Gomes Cravinho, é um evidente erro de cast, dada a incompetência e impreparação política na matéria. A nova escolha do governo de António Costa tem unicamente em vista deitar poeira tanto sobre o Roubo de Tancos, como sobre o conteúdo das relações políticas que devem existir entre o Governo e as Forças Armadas da República. 

Tem-se a sensação de que as Forças Armadas e os sucessivos governos deixaram de pertencer à mesma República e que cada um deles dedica todo o tempo disponível a separar-se um do outro. Qualquer dia as Forças Armadas Portuguesas pertencerão à Nato e serão dirigidas pelo imperialismo americano, enquanto que o governo, com os novos Miguéis de Vasconcelos, pertencerá a uma nova Duquesa de Mântua sediada entre Berlim e Bruxelas. 

Ora, precisamente o que o Roubo de Tancos vem evidenciar é essa separação crescente e cada vez mais aguda entre Governo e Forças Armadas. O Governo odeia as Forças Armadas e os seus militares pelo dinheiro que gastam, e todavia o Governo não pode viver sem elas e sem eles. 

O Roubo de Tancos veio pôr em evidência a profunda crise que assola as Forças Armadas, em especial o ramo do Exército, mas veio sobretudo salientar a grave crise política que se estabeleceu nos últimos tempos entre as Forças Armadas e o Governo. 

Por razões políticas que se prendem com irracionais cortes orçamentais, o Governo impossibilitou as Forças Armadas de cumprirem as suas missões político-militares, tanto na defesa do País como nas relações externas, e impossibilitou-os de cumprir as tarefas mais mesquinhas como guardar, apenas guardar, o armamento necessário para se poder fabricar minas e armadilhas. 

Desde que a Tróica tomou conta de Portugal e lhe impôs o regime de colónia do imperialismo europeu, o governo português passou a ter como ministro da Defesa um corrector de finanças, destinado a reduzir contínua e sucessivamente as despesas da Tropa, até deixá-los descalços, nus e desarmados… 

Os chefes militares supremos – os Chefes-de-Estado-Maior – passaram a subservientes magalas, cada vez com menos honra, menos dignidade e menos prestígio. Indivíduos que descem ao ponto de não defender devidamente os paióis da Nação, para não gastarem dinheiro ou que abdicam da posse de um estaleiro naval imprescindível à Marinha.

E os ministros da Defesa são garotos zarolhos, ignorantes do que seja a defesa nacional e os seus princípios, apenas distribuidores de comendas a quem mais facilmente lhes obedecer. Esses ministros não querem Forças Armadas prestigiadas nem soldados à altura de todos os acontecimentos; querem subordinados, se possível lambe-botas, que os ajudem a pagar as dívidas que os gatunos no governo e nos bancos vão contraindo.

O Roubo de Tancos foi uma inevitável consequência disto tudo, desta política governamental de patifes: um governo de lacaios portugueses, a soldo do imperialismo europeu franco-germânico; da austeridade financeira imposta à nova colónia; de um ministro da Defesa ignorante e anti-patriota; e de chefes militares supremos incompetentes, sem carácter e sem dignidade.

Por isso, antes que algum partido ou político português se pronunciasse sobre o caso do Roubo de Tancos, publiquei e assinei no jornal Luta Popular Online, logo no dia seguinte ao roubo do armamento (01.07.17), um editorial intitulado “ Rua com o Ministro da Defesa Nacional!”.

E três dias depois do Roubo de Tancos (03.07.17), em editorial publicado e assinado no mesmo jornal (Demitir-se ou Ser Demitido!), chamava a atenção do Presidente da República, para a necessidade de demitir o governo.

A verdade é que nem o ministro da Defesa se demitiu nem foi demitido. E o Governo por aí continua sem explicar ao País qual é a sua política para com as Forças Armadas. Também o Governo não se demitiu nem foi demitido. Deixou-se correr o tempo, a ver se tudo esquecia, mas não esqueceu. E as relações políticas entre o Governo, as Forças Armadas e o Presidente da República aí estão mergulhadas numa crise política inultrapassável.

Se este Governo acha que pode resolver os problemas da Defesa, demorando mais de um ano a demitir Azeredo Lopes e igual tempo para substituí-lo por um Cravinho, então obviamente ninguém quer saber qual é o papel que este Governo reserva às Forças Armadas. Qualquer dia mandará para lá, para a Defesa, o bombeiro fiscal do costume: o inefável Paulo Macedo. 

29OUT18  

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