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PAÍS

Espírito Santo: Uma Quadrilha de Bandidos à Solta

2. Pois é! Tal como íamos dizendo, o Banco Espírito Santo lá faliu… Não sei se os meus estimados leitores estarão ainda lembrados, mas em 15 de Abril passado – já lá vão quase quatro meses – publiquei aqui um artigo, intitulado Banco de Portugal e BES: Quem Supervisiona o Supervisor?, artigo que ainda está on-line e que talvez mereça uma última mirada dos vossos olhos. Examinando aí o relatório e contas do Banco Espírito Santo (BES) relativo ao exercício de 2012, chegava eu então à conclusão de que o BES estava falido, e, perdoar-se-me-á a imodéstia, fui a primeira pessoa em Portugal a afirmá-lo publicamente, por escrito e com muita antecedência.

Não deixei de aí aproveitar a oportunidade para exautorar vivamente a incompetência, a irresponsabilidade – senão mesmo a corrupção! – do supervisor Carlos Costa, governador do BdP, e ataquei desassombradamente os deputados e partidos da esquerda parlamentar, por não terem ousado convocar a comissão da Assembleia da República encarregada do controlo do supervisor, tarefa esta que só cumpriram (e muito mal) hoje, dia 7 de Agosto. E terminava o meu escrito, de uma maneira quase profética:

A Assembleia da República, e sobretudo os grupos parlamentares do PS, BE e PCP, não podem enjeitar responsabilidades se, dentro de algum tempo, vier a acontecer alguma coisa de muito sério e de muito grave à banca portuguesa, sobretudo quando, como é o caso do BES, temos estado à espera de garantias de Angola para reduzir o risco dos activos subscritos, com conhecimento ou sem conhecimento de causa, pelos clientes do retalho”.

O Banco Espírito Santo faliu. E faliu porque, sendo um banco comercial de retalho, utilizou, contra lei expressa, os depósitos dos seus clientes para financiar, frequentemente sem conhecimento deles próprios, o endividamento das empresas do Grupo Espírito Santo, ao juro baixíssimo a que remuneravam os depósitos dos seus depositantes. No fundo, a quadrilha da família Espírito Santo transformou, assim, um banco comercial num banco de investimento nas dívidas das empresas do Grupo Espírito Santo.

Muitas vezes, sem o saberem, os depositantes do BES foram os financiadores da quadrilha do GES e das suas empresas endividadas e falidas.

Quando implodiu, em 30 de Julho de 2014, os depósitos do BES totalizavam, em números redondos, 37 mil milhões de euros, dinheiro que desapareceu no crash do BES em bolsa, nas empresas falidas do Grupo e nos bolsos da quadrilha de bandidos da família Espírito Santo.

O BES apropriara-se criminosamente do dinheiro dos depositantes e estes ficaram a ver navios.

Por outro lado, o capital do BES estava representado por 5.624.961.683 acções, 10% das quais (551.246.245) detidos em muitos pequenos lotes por empresas e particulares não identificados, muitos deles certamente pequenos accionistas que, com o crash do banco em bolsa, no fim de Julho, ficaram sem as suas poupanças. Situação que se agravou com a total incompetência do regulador Carlos Tavares, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, que autorizou uma emissão de 1,4 mil milhões de euros em novas acções do moribundo BES, cujo valor social se volatilizou em dois dias, acabando a dez cêntimos cada acção, quando aquele supervisor, com as calças na mão e em pânico, suspendeu a negociação das acções…

Enquanto o BES estrebuchava, teve de transferir três mil milhões de euros para o BES Angola (BESA), também em iminência de falência, verba colossal que foi para ali transferida por Salgado, na esperança de sacar a José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, o prometido mas nunca concretizado empréstimo de 5,9 mil milhões de euros, verba que, após a falência do BES de Lisboa, serviu para Dos Santos comprar o BESA, por apenas 2,9 mil milhões de euros, pois o quadrilheiro Salgado já havia enviado para Luanda a quantia de três mil milhões de euros (5,9 mm – 3 mm = 2,9 mm). A família de José Eduardo dos Santos é agora maioritária no capital do BES Angola.

No negócio entre ladrões, o mais esperto é o que a final leva a melhor: e aqui, no caso do BES Angola, o ladrão mais esperto foi o angolano, que comprou, por 2,9 mil milhões de euros, um banco que tinha acabado de ver reforçado o seu capital com mais três mil milhões…

No estertor do BES de Lisboa, faliu o BES da Suíça – ESPB (Espírito Santo, Banque Privée) – e faliram o BES de Miami, com intervenção do regulador norte-americano, e o BES da Líbia.
Mesmo assim, Ricardo Salgado ainda teve também tempo de transferir para a sua conta pessoal num banco de Singapura a módica quantia de 30 milhões de euros, segundo informação da imprensa portuguesa de hoje (07/08/2014)!...

Pequenos e médios accionistas e depositantes viram-se assim confiscados das suas poupanças pela incompetência - ou será mais do que isso? – dos dois supervisores e pela ganância de uma quadrilha de bandidos.

E repare o leitor que a falência do banco da família Espírito Santo é tirada a papel químico da falência do BPN, este da família política cavaquista, no caso dirigida por Oliveira e Costa e pelo foragido Dias Loureiro, e da falência do BPP, da quadrilha de João Rendeiro. Como é possível que o mesmo governo e os dois supervisores permitam que estas acções de ladroagem se repitam, com total impunidade para as famílias quadrilheiras?

Quando se fala em valores realmente envolvidos nesta falência do Banco e do Grupo Espírito Santo, o governo de traição nacional Coelho/Portas e o supervisor oriundo do Banco de Portugal assobiam ao cochicho, ou guardam de Conrado o prudente silêncio. Mas é preciso ter a coragem de dizer ao País, alto e bom som, que 20 mil milhões de euros não chegarão para pagar o resgate da falência do Banco Espírito Santo, excepto se o resgate assumir, como deve efectivamente assumir, a forma de nacionalização sem indemnização de todos os activos do GES existentes em Portugal, assunto de que adiante falaremos.

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Comentários   

 
# apolíneo gouveia 13-09-2014 13:42
A informação cheira toda ela a coisa escorreita, verdadeira e limpa .Foi uma lição que recebi por um grande professor ( Espartaco ) Preciso de acompanhar estas lições no futuro . Estou colado
 
 
# apolíneo gouveia 13-09-2014 14:45
muito util esta peça !
 

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