PAÍS

Multiplicam-se evidências científicas de genocídio sanitário

Não foi de forma imponderada que classificámos o quadro pandémico que actualmente se vive, em Portugal e no resto do mundo, como um autêntico genocídio sanitário. À medida que o tempo passa e a poeira que nos lançaram para os olhos – com o objectivo de nos esconder a realidade – começou a assentar, é cada vez mais evidente que essa classificação foi, e continua a ser, inteiramente justa e justificada.

Tal como já havia sido denunciado pelas Ordens dos Médicos, Enfermeiros e Farmacêuticos, o resultado combinado:

foi agora sintetizado num estudo que investigadores do Instituto de Medicina Baseada na Evidência, da Faculdade de Medicina de Lisboa, levaram a cabo.

Segundo o dito estudo a taxa de letalidade daqueles factores combinados terá sido muito mais elevada do que a provocada pela pandemia de COVID-19. Isto é, entre 1 de Março e 22 de Abril, terão falecido mais 2.400 a 4.000 pessoas do que em igual período do ano passado, podendo ler-se no relatório do supracitado estudo que “...uma parte significativa das mortes poderá ter resultado do adiamento da procura de cuidados de saúde e do cancelamento de consultas e cirurgias não urgentes”.

Para sublinhar as conclusões a que chegaram, os investigadores referem que “...até ao dia 22 de Abril estavam confirmadas 785 vítimas mortas de COVID-19...”, concluindo que o excesso de mortalidade foi de 3,5 a 5 vezes superior à atribuída ao novo vírus!!! Tal como afirma o Director do Instituto e coordenador do estudo, António Vaz Carneiro...não é profissionalmente, científicamente e eticamente possível ignorar esta indução de mortalidade excessiva por os doentes não terem cuidados...

Só crápulas sem ética, profissionalismo ou sem qualquer qualificação científica, podem defender o contrário. Como o fez, na conferência de imprensa de ontem, o porta-voz da Direcção-Geral da Saúde que afirmou, de forma totalmente imbecil, que “só” teria sido de 307 o excesso de mortalidade, comparativamente à média dos últimos 5 anos! De uma direcção-geral de saúde que já nos brindou com todo o tipo de manipulações e alarvidades – desde ocultação de dados fidedignos sobre contagem de infectados e mortos, até desvalorização do uso de máscara, passando por fazer acreditar que o vírus não se transmitiria entre seres humanos –, é mais uma!

Num quadro em que a esmagadora maioria dos países capitalistas e imperialistas, em nome do lucro e da rentabilidade, levaram os seus serviços públicos de saúde ao colapso, seria mais do que certo e expectável que uma pandemia viral como a do COVID-19, iria colocar a nú todas as suas fragilidades.

O método encontrando, o confinamento, foi o mesmo que as sociedades medievais aplicaram quando pandemias letais como a peste negra eram responsáveis por milhões de mortes e se julgava que o método permitiria retardar a disseminação do vírus e, logo, da sua mortalidade. Tal como a classe dominante de então – os senhores feudais –, a classe dominante na época actual – a burguesia capitalista e imperialista –, pouco ou nada investe no serviço público de saúde.

Depois de ter, sucessivamente, decretado por três vezes o estado de emergência, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que não iria renovar esse instrumento absolutamente fascista embora constitucional. Não quer fazer mais o papel de polícia mau nesta péssima peça de ópera bufa. Deixa, agora, esse papel para António Costa que, até agora tem desempenhado o papel de “polícia bom”, o tal que até tinha feito acreditar que manifestara algumas reservas aquando do decretar do primeiro estado de emergência.

Se o confinamento foi decretado para retardar a propagação do vírus ou escalonar a mortalidade, e assim evitar o congestionamento dos hospitais públicos insuficientemente preparados para fazer face a esta – ou a qualquer outra – pandemia, o que ficou amplamente demonstrado, é que o vírus sempre segue a sua missão, seja em alta velocidade ou em ritmo mais moderado, mas que não é aquele tipo de medida que impedirá, quer a sua propagação, quer a sua progressão letal.

Perante um quadro de total impreparação do SNS para fazer face a esta pandemia – ou qualquer outra com uma taxa de infecção e letalidade como esta – o governo escolheu o caminho que considerava encobrir da maneira mais adequada as suas responsabilidades numa política de liquidação do Serviço Nacional de Saúde.

E, claro está, contou desde logo com todos os escribas vendidos ao grande capital, que se prestaram a ajudar o governo de Costa a instalar o medo e o pânico entre os operários e os trabalhadores. A paralisia foi tal que levou a um decréscimo de mais de 50% da procura dos serviços de urgência e a uma quebra de cerca de 20 milhões de actos clínicos – consultas, exames, urgências, etc.

Sem que fosse caso único, de entre esses escribas destacou-se Rodrigo Guedes de Carvalho. Desde a primeira hora foi um dos que divulgou, com inexcedivel oportunismo e total desqualificação intelectual, aquilo que o governo lhe tinha encomendado. Destratando a população, sobretudo aquela que é potencialmente utente dos serviços públicos de saúde, responsabilizando-a directamente por qualquer fracasso na contenção da pandemia, chegou a ser “mais papista do que o papa” ao propor medidas terroristas e fascistas de repressão, para punir aqueles que se atrevessem a colocar em causa o estado de emergência e as suas consequências.

Um tipo de jornalismo acéfalo e terrorista que nada mais tem feito do que escamotear que a progressão da pandemia viral de COVID-19 e a taxa de mortalidade que lhe está associada, são da inteira e exclusiva responsabilidade de um governo que priveligia os credores em relação à saúde, como o demonstra o facto de dedicar verbas muito superiores para o “serviço da dívida” do que aquelas que destina para a saúde.

Para se combater a pandemia do COVID-19, criaram-se as condições para que ocorresse um novo tipo de pandemia, ainda mais mortal. Uma pandemia pararela que se aproveita da paralisia induzida pelo governo, que apelou aos utentes do SNS para que deixassem de procurar as urgências, ao mesmo tempo que procedeu ao cancelamento de milhares de consultas hospitalares e outros actos médicos – onde se incluem consultas programadas para centros de saúde ou unidades de saúde familiar.

Neste contexto, pouca diferença faz se o terror se instala através do decretar de um estado de emergência ou de um estado de calamidade. Os operários e os trabalhadores estão confrontados com um colapso deliberadamente provocado e um desemprego maciço voluntariamente suscitado.

O caos generalizado que se instalou, marcado pelo sofrimento e pela miséria inevitável e iminente, é duplo. Por um lado, o governo pretende fragilizar – quer no plano psicológico, quer no plano social – os operários e os trabalhadores. Tudo isto para os forçar a acreditar que são governantes “benevolentes e generosos”, pelo que devem ter confiança no aparelho de estado que vela...pela sua saúde!

Esticada a corda até a um ponto próximo da ruptura, o estado de calamidade que o governo se prepara para impor tem por objectivo mitigar os efeitos do caos iminente e preservar a ordem económica dominante, restabelecendo o papel proeminente do Estado, com a canina cumplicidade, claro está, de toda a sorte de jornalistas e jornais, radios e televisões de merda, bem como de comentadores, analistas e outros parasitas que de ciência nada sabem, mas que se arrogam grandes especialistas... na arte de papaguear o que o regime lhes encomenda!

Os operários e os trabalhadores, em Portugal como no mundo inteiro, ganham cada vez mais consciência de que, para a burguesia,  o inimigo não é o coronavirus, mas sim o proletariado, um inimigo de longa data daquela classe e do seu sistema capitalista e imperialista, muito mais ameaçador, esse vírus social mais perigoso e letal do que o coronavirus. A burguesia vê no seu Estado, a única arma para salvar a sua ordem capitalista. Ela sabe que um fracasso pode inflamar o mundo. E parecendo forte ao decretar estados de emergência e de calamidade, impondo a repressão fascista como tem acontecido, só demonstra a sua fraqueza, condição que há-de levar a que o seu modo de produção sucumba ao ataque daqueles que forem afectados pelo vírus da rebelião.

29Abr2020

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