CULTURA
Derramar a terra lavrada
Derramar a terra lavrada
Da minha janela vejo o horizonte, imagino montes e caudais e torrentes.
Deste chão que me deito ouço as correntes que me libertam o pensamento e dão asas aos voos que ninguém pode impedir, e dão azo à calma explosão das flores de todas as estações.
Penso na comuna de Paris e lembro-me de homens vis derrubados pelos trabalhadores.
Em 1905 e 1917, na Rússia as insurreições arfavam os meus pulmões.
Em 1919, na Alemanha e na Hungria os levantes levaram-me a pensar que nada será como antes.
Mao e a sua grande marcha recordam o chá gelado vermelho do mar azul morno.
Aquele forno conflito das rebeliões na guerra civil espanhola remontam aos mil tempos de escola onde todos sorriamos sem horas nem demoras.
O mundo era nosso.
Era de todos os que sonhavam.
As planícies não eram alcançadas pelas vistas de perder a beleza, nem os bosques tampouco eram insuficientes aos seus visitantes de todas as espécies.
Toda a paz adormecia a noite.
As lutas de libertação da Argélia trazem a fragrância da camélia que dei a quem não posso contar e nessa independência perdi a inocência.
A revolução da China mina e azucrina os corações vadios.
O heroísmo da Sierra Maestra não tem forma de rimar e nem precisou para rumar até lado nenhum.
No Vietname, aquela epopeia percorre-me a veia que já dilatou e rebentou.
Por um triz que não se dava a revolução.
Tirou-me a vida e levou o meu corpo nunca em vão.
Mas na alvorada o meu sonho emerge parte de mim que nunca morrerá, persiste e resiste para ver o comunismo a se edificar. Enquanto isso, teremos a poesia para fecundar a utopia que surgirá um dia.
Benjamin