Num esforço que nunca imaginaríamos ser possível Louçã protagonizar, em apenas dois dias, o personagem “mimou-nos” com uma história a dois tempos:
Tempo 1 – Anuncia nas “redes sociais” que não se recandidatará à função de coordenador do seu movimento/bloco na próxima convenção e, tal patriarca monárquico, “propõe” que a “dinastia” prossiga de forma bicéfala – ou quereria dizer acéfala? -, repartida por um homem e uma mulher, indicando desde logo, os seus “delfins”.
Para Louçã, portanto, não é o que se defende, ou quais os interesses de classe pelos quais um partido de esquerda se deve bater, nem, muito menos, quais as qualidades de liderança que são necessárias para atingir tais objectivos, que interessam.
O que interessa, tal como já acontece com as “propostas fracturantes” que o BE vem apresentando para desviar os trabalhadores e o povo das questões essenciais pelas quais devem lutar, isto é, o derrube deste governo de traição e o não pagamento da dívida, que não foi contraída por eles, nem foi contraída para seu benefício, o que interessa mesmo para Louçã e seus seguidores não é o conteúdo das propostas, mas a forma que a direcção do seu movimento/bloco assume para as protagonizar.
Forma que, ainda segundo Louçã, se deve pautar pela implementação de uma visão do século XXI (??) que não se compagina com “práticas” do século XIX (????). E, pronto, ficámos todos mais tranquilos, não fora, agora, o BE, ter outra política que não seja a de se arvorar em gestor do sistema capitalista no sentido de lhe emprestar algum “glamour” de “esquerda” que permita ao sistema dominante exibir um “rosto humano”.
Tempo 2 – Aproveitando o espaço vazio deixado pelo PSD no “calçadão” da Quarteira quando este, temeroso da contestação popular às políticas terroristas e fascistas que prossegue, a mando da tróica germano-imperialista, no governo, decidiu transferir a sua “festa do pontal” para o recato de um recinto fechado, Louçã, o tal que verbera “práticas” do século XIX, mas as reproduz de forma “dinástica” no século XXI, vem “reclamar” num comício organizado pelo seu movimento/bloco, que o governo de Passos não deve continuar “…a facilitar a vida ao crime económico e à fuga de capitais”.
Ao mesmo tempo que, prolongando o crime que constitui fazer os trabalhadores e o povo pagarem uma dívida que não contraíram, nem dela beneficiaram, desde que “reestruturada” e “renegociada”, vem “exigir” que se proceda ao “cancelamento” da dívida imposta pelo directório europeu e pelo imperialismo germânico que o controla, nos próximos anos!
Ou seja, a alternativa, segundo Louçã, é “…fechar a porta à tróica e abrir a porta à Europa”, como se uma e outra, nas condições políticas actuais, em que o directório da UE está completamente submetido aos interesses do imperialismo germânico, não fossem uma e a mesma coisa.
Para dar credibilidade a tal tese, vem ainda Louçã relembrar que até Cavaco Silva já se pronunciou a favor daquilo que o BE defende, isto é, de que o BCE (que é uma entidade privada onde pontificam os grandes grupos financeiros e bancários alemães) deveria comprar “dívida pública” portuguesa a 1%, que é o juro que pratica com a banca nacional e internacional.
E vai mais longe. Numa lógica perfeitamente capitalista do “quem paga controla”, defende a nacionalização do BPI e do BCP, não no contexto de uma política de esquerda, a implementar por um governo democrático patriótico, que emergisse do derrube do actual governo de traição, baseado num novo paradigma de economia ao serviço de quem trabalha e do povo, e controlado pelos trabalhadores, mas na mesma senda do que aconteceu com o BPN, isto é, “nacionalizem-se” os prejuízos, pois os dividendos já encheram os bolsos dos capitalistas.
Teses que consubstancia a sua posição relativamente à dívida, bem como o que defende – ele e o seu movimento/bloco – quanto ao que deve ser feito relativamente a ela…pagá-la! Isto é, fazer o povo e os trabalhadores pagá-la, precisamente aqueles que não foram responsáveis por ela, nem dela beneficiaram.
Dois momentos, pois, que vieram comprovar que quanto a Louçã e ao movimento/bloco cuja direcção agora abandona, nada de novo no horizonte: o mesmo oportunismo de sempre, a social-democracia no seu pior!