PAÍS

Um governo em cacos e a urgência de o derrubar

O último episódio do “folhetim CDS” na coligação de poder deste partido com o PSD é bem demonstrativo do que é hoje o governo em funções, do seu profundo isolamento perante as massas e da urgência de o derrubar.

No final da semana, Paulo Portas, presidente do CDS e ministro da Defesa, veio declarar solenemente que o seu partido vai votar a favor de uma proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) que o seu governo apresentou na Assembleia da República. Oportunista como é, Portas quer fazer passar a ideia de que está contra a proposta de OGE e que vota a favor da mesma para não abrir uma crise política que supostamente inviabilizaria a continuação do “programa de ajustamento” acordado com a tróica, com base no qual foi produzida a referida proposta. Isto é, Portas e o CDS votam contrariados na proposta de OGE porque defendem convictamente o acordo com a tróica, mas não explicam em que é que a dita proposta entra em contradição com o mencionado acordo. E não explicam porque essa contradição não existe. A própria tróica já veio dizer que aquele é o seu OGE.

Assustado com a inevitável hecatombe do seu partido em próximas eleições, anunciada já com a clamorosa derrota averbada pelo CDS nas últimas eleições regionais dos Açores, Portas parece uma barata tonta, sem saber o que fazer. “Partido dos agricultores”, o CDS vê a sua ministra levar com ovos onde quer que se apresente sem escolta. “Partido dos reformados”, também o ministro do CDS da segurança social não consegue sair à rua de há vários meses a esta parte. Restava ao CDS o auto-título de “partido dos contribuintes”, que o próprio Paulo Portas voltou a reivindicar recentemente quando jurou que não viabilizaria qualquer novo aumento dos impostos – também esse foi de rojo com a proposta do OGE.

Portas quer sair do governo antes que o CDS desapareça, mas não sabe como fazê-lo. Afirmando sacrificar-se em nome da estabilidade governativa, Portas começa já a apostar no cavalo Seguro. Não há hoje nenhuma diferença entre o que diz um e o que diz o outro, entre o que finge um e o que finge o outro. Ambos são homens da tróica e ambos querem fazer-se passar por críticos das medidas que estão contidas no “programa de ajustamento” da tróica. Seguro quer que o governo lhe caia nas mãos sem precisar de apresentar alternativas que não tem; Portas espera ser repescado num hipotético governo do PS.

O que tudo isto demonstra é que o governo está feito em cacos. Em boa verdade, o governo resume-se hoje a um funcionário da tróica chamado Vítor Gaspar, cuja tarefa é convencer os outros membros do executivo, incluindo o primeiro-ministro, a assinarem de cruz o que a tróica manda e a fazerem de conta que o governo existe. Numa situação de equilíbrio de forças entre a revolução e a contra-revolução, como é a actual, é crucial romper esse equilíbrio através de uma aliança de classes que derrube de imediato o governo PSD/CDS e imponha a formação de um governo de unidade, democrático patriótico. Se isto não for feito, o equilíbrio pode romper-se através da imposição de um governo de tipo bonapartista ou fascista.

Quando anunciou que o CDS ia votar a favor do OGE, Paulo Portas referiu que uma crise política colocaria Portugal numa situação muito parecida à da Grécia. Ora, é precisamente o contrário que se passa. É a manutenção do actual governo que agravará rapidamente a situação do país a um nível muito pior do que o da Grécia. A presente crise económica e política tem por isso de ser resolvida sem demora pela luta dos operários e dos trabalhadores. É preciso tomar decididamente a ofensiva no combate político e unir tudo o que possa ser unido no que diz respeito aos objectivos imediatos, democráticos e patrióticos, desse combate. Há que escorraçar o Coelho, o Portas e todos os lacaios da tróica germano-imperialista. Um novo governo deverá suspender o pagamento da dívida, sair do euro e repor o escudo se tal for necessário, controlar o sistema bancário e pôr em execução um plano de desenvolvimento ao serviço dos trabalhadores e do povo. É isto que está em jogo na próxima greve geral de 14 de Novembro e em todas as greves gerais que for preciso realizar até que aqueles objectivos sejam alcançados.