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Partido

Os Comunistas e o Movimento Cívico José Sócrates Sempre
Publicado em 30.06.2015

Na passada sexta-feira, dia 26 de Junho, o jornal Luta Popular Online publicou, sob o título Conferência com o Camarada Garcia Pereira na Covilhã, uma belíssima crónica política, das melhores que se têm lido no nosso periódico desde sempre, sobre aquilo que ocorreu, na véspera, no auditório da assembleia municipal daquela cidade serrana, onde, numa iniciativa do movimento pela libertação de Sócrates da situação de prisão preventiva em que se encontra, denominado José Sócrates Sempre, o camarada Garcia Pereira participou como orador, na sua qualidade de presidente da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR), desenvolvendo o tema “A Prisão Preventiva em Portugal.

Participaram ainda como oradores, numa mesa dirigida pelo Eng.º António Campos, fundador do Partido Socialista e meu amigo pessoal, o Dr. Victor Ilharco e o Dr. Dino Barbosa, respectivamente, secretário-geral e director da APAR, e José Pinho, dirigente do Movimento Cívico José Sócrates Sempre.

A conferência do camarada Garcia Pereira foi entusiasticamente aplaudida pelas pessoas presentes no auditório municipal da Covilhã e suscitou um debate muito vivo.

A crónica do órgão central do Partido dá conta das principais contradições em que se movimentou o debate, mas discretamente oculta os opositores de Garcia Pereira.

Para compreensão daquilo que pretendo discutir a seguir, tenho necessidade de lembrar aqui aos meus dilectos leitores que fui o primeiro político português a denunciar publicamente – e justamente neste jornal, a 7 de Janeiro de 2015 – o carácter político da perseguição e prisão de Sócrates, defendendo-o como um preso político e exigindo a sua libertação imediata.

Nas semanas seguintes, primeiro a 12 de Janeiro, e, depois, a 23 do mesmo mês, em artigos intitulados, respectivamente, A Prisão de José Sócrates e a Cobardia Política de António Costa e Cavaco: uma Vergonha de Presidente, denunciei os dois principais políticos portugueses responsáveis pela continuação da prisão política do antigo primeiro-ministro e ex-secretário- -geral do Partido Socialista.

Em nenhuma das minhas tomadas de posição públicas a respeito da prisão de José Sócrates deixei qualquer equívoco: não gosto nem nunca gostei de Sócrates; Sócrates é, com o governo PSD/CDS e com o actual presidente da República, um dos principais responsáveis pelo estado de pobreza, desemprego e miséria em que morre o povo português; todavia Sócrates está preso sem culpa formada, é um preso político e deve ser imediatamente libertado.

Esta posição não alberga nenhum equívoco político ou ideológico a respeito de Sócrates. Os comunistas portugueses exigem a libertação do preso político Sócrates. Mas não apoiam nunca a política reaccionária, anti-operária e anti-popular de Sócrates, enquanto primeiro-ministro, nem lutam pela sua reabilitação e regresso à política.

Ora, acontece que o “Movimento Cívico José Sócrates Sempre”, dirigido por José Pinho, não se propõe apenas lutar – e aqui muito justamente – pela libertação do preso político José Sócrates; propõe-se também lutar pela reabilitação política de Sócrates e pelo seu regresso à direcção política do Partido Socialista e de um futuro governo de Portugal. Consulte o leitor, se tiver paciência para isso, o facebook que lançou e mantém activo o referido movimento cívico em: Movimento Cívico José Sócrates Sempre.

Aí verá, de passagem, que da Conferência da Covilhã só ficaram registados os discursetos de José Pinho, mas já não os discursos dos restantes intervenientes, que compõem todavia uma fotografia para paus-de-cabeleira do movimento de Pinho. 1

Foi pois este movimento cívico que, para além da libertação de Sócrates enquanto preso político, se propõe reabilitá-lo politicamente perante o povo e o país, quem convocou a Conferência da Covilhã, sob a direcção de José Pinho.

E a minha pergunta é esta: o que é que o camarada Garcia Pereira, que é membro do comité permanente e do comité central do PCTP/MRPP, foi fazer à Covilhã senão abrilhantar o movimento cívico “José Sócrates Sempre”?

Quererá ele, com a sua presença e intervenção, significar que o PCTP/MRPP, além de exigir a libertação imediata do preso político José Sócrates, além de denunciar a cobardia política do secretário do PS António Costa e além de denunciar a vergonha de ter a República um boneco em Belém como presidente, que não levantou um dedo contra os magistrados violadores das regras e princípios básicos da Constituição, que além destes três objectivos políticos fundamentais e únicos no caso Sócrates, também o PCTP/MRPP quer defender a reabilitação política e o regresso de Sócrates ao Poder?

Se é isso que o camarada Garcia Pereira, o Comité Central e o Comité Permanente do PCTP/MRPP defendem, não contem comigo para os apoiar. Sócrates, aliás, é vítima do sistema judicial reaccionário que ele próprio burilou enquanto primeiro-ministro.

E mais um ponto ainda: só muito recentemente fiquei a saber que o camarada Garcia Pereira é presidente da Associação Portuguesa de Apoio aos Reclusos (APAR) e que, segundo a magnífica crónica do Luta Popular Online, foi nessa qualidade que se deslocou à Covilhã para falar sobre a “Prisão Preventiva em Portugal”.

Não tenho nada contra a existência de uma associação de apoio aos reclusos, pois os reclusos têm direitos pessoais, cívicos, familiares, sociais e políticos a defender nas masmorras onde estão enclausurados. Também acho que os comunistas não estão impedidos de serem organizadores ou dirigentes desse tipo de associações. O que é espantoso é que Pinho tenha convocado a associação de reclusos para apoiar um preso político!... Ou será que, no subconsciente de Pinho, Sócrates não passa de um recluso que é melhor se ir entendendo desde já com a respectiva associação?...

Mas atenção, senhoras e senhores: o recluso é em geral um marginal, e não cabe aos mais altos membros do comité central de um partido operário comunista presidir pessoalmente a cada tipo de organização de luppen-proletariado ou de marginalidade social, que se vá erguendo pelo país fora. Aos membros do comité central de um partido operário comunista cabe organizar a classe dos proletários e dirigir o movimento comunista operário revolucionário, não o luppen-proletariado ou a marginalidade social organizada nas cadeias.

Acho que neste nosso Partido anda muita coisa ao contrário…


1. Quando já estava escrito este texto, pude verificar que o discurso do camarada Garcia Pereira na Covilhã havia sido entretanto colocado pelo movimento cívico José Sócrates Sempre no youtube, par
a cujo visionamento convido os leitores do Luta Popular Online, porque a intervenção de Garcia Pereira é verdadeiramente brilhante e, em si mesma, não é politicamente afectada pelas críticas que aqui faço e mantenho.

 

Arnaldo Matos




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