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EDITORIAL

Militares Portugueses, Fora do Mali!


                                                                                                                       Arnaldo Matos


O edifício que alberga a missão militar da União Europeia em Bamaco, capital da república africana do Mali, foi atacado na manhã de ontem por um comando militar ainda não identificado.

A missão militar da União Europeia, composta por seiscentos homens, está instalada no Hotel Norte-Sul, na zona cosmopolita de Bamaco, perto das embaixadas estrangeiras, onde no passado mês de Novembro a Alcaida no Magrebe Islâmico desferiu um outro ataque ao hotel Radisson Blu, que provocou 21 mortos.

O mesmo grupo atacou também um resort de luxo no início deste mês de Março na Costa do Marfim, país vizinho do Mali, causando 19 mortos.

No ataque de ontem, ainda não reivindicado mas com toda a aparência de ter sido conduzido pela mesma Alcaida do Magrebe Islâmico, a missão militar da União Europeia não sofreu baixas.

Da missão militar da União Europeia no Mali faz todavia parte uma pequena secção de militares portugueses – no total de dez homens – dos três ramos das forças armadas, nenhum dos quais militares morreu ou ficou ferido.

Até à sua independência, em 22 de Setembro de 1960, o Mali foi, desde o século XIX, uma colónia do imperialismo francês. Muito embora constitua o 15º país africano em extensão, o Mali é mesmo assim um país muito pobre, onde mais de metade da sua população vive em extrema indigência, com o rendimento disponível de um euro por dia, por cabeça…

O povo malinês mantém-se, se assim se pode dizer, de uma agricultura de sobrevivência, praticada nas margens do rio Níger, num país em que largamente predomina um clima árido e semi-árido, impróprio para as actividades agrícolas.

Já depois de proclamada a independência do Mali, vieram os imperialistas franceses a descobrir que o subsolo da sua paupérrima ex-colónia era riquíssimo em urânio, exactamente o que lhes falta na Europa, minério que sustenta a produção de energia eléctrica e do armamento nuclear do imperialismo gaulês.

O Mali é hoje um país politicamente dividido, onde a maioria da população, de credo muçulmano, foi afastada do poder por múltiplos e sucessivos golpes das forças imperialistas francesas, que voltaram a ocupar a sua velha colónia e a transformá-la numa nova colónia, dividida por uma guerra civil perpétua.

A França, a Alemanha e o imperialismo ianque, depois de destruírem a Líbia, ocuparam directa ou indirectamente, através dos seus lacaios, todo o Magrebe até ao Mali. Na verdade, o imperialismo europeu e o imperialismo americano, primeiro com capacetes azuis da Organização das Nações Unidas e depois com uma missão militar da União Europeia, liquidaram a independência e soberania da república africana do Mali.

É desta zona que emergiram as primeiras vagas de migrantes para a Europa, ainda antes da guerra civil engendrada pelo imperialismo na Síria, no Iraque e no Afeganistão ter promovido o holocausto migracional que está a submergir a Europa de uma ponta à outra.

Ora, o que é que faz uma força militar portuguesa, pequena embora, no Mali?

Portugal não tem nenhum interesse político, económico, estratégico ou táctico a defender no Mali. Antes pelo contrário: o nosso país proclama alto e bom som, no seu texto constitucional, a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, o que nos obriga a defender o Mali, a sua independência e soberania, e não a espezinhá-lo sob as botas cardadas da opressão americana, francesa e germânica.

A pequena tropa que o governo de traidores Coelho/Portas, e agora o governo de traição de António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, colocaram em Bamaco, é apenas para cumprir o papel de lacaios do imperialismo, que é precisamente o inverso do papel que nos cumpre: da amizade com todos os povos e nações oprimidas do mundo, do respeito pelos seus direitos e da não ingerência nos seus assuntos internos.

O povo português deve opor-se aberta e frontalmente a esta política externa do governo português, porque ela é diametralmente oposta aos interesses do nosso povo.

Mais cedo ou mais tarde, os povos, a quem estamos a oprimir em nome dos interesses do imperialismo estrangeiro, vão voltar a erguer-se contra os imperialistas e todos os seus lacaios, entre os quais se encontra o Estado e o governo português, e os militares mercenários que se vendem e se compram cada vez mais baratos.

Quando desabarem sobre nós as consequências normais de um conflito armado para o qual nunca nos devíamos ter deixado arrastar, então que não se diga que estamos todos inocentes numa guerra que deveríamos ter previsto e contra a qual nos deveríamos ter erguido e revoltado sem hesitações desde o primeiro momento.

Os militares portugueses devem recusar cumprir o papel de lacaios do imperialismo. Os militares portugueses devem sair imediatamente do Mali! Assim como devem sair do Afeganistão, do Iraque, do Kosovo e de todos os locais do globo para onde foram enviados em cumprimento não dos nossos desígnios, mas dos desígnios dos imperialistas.

Militares portugueses, fora do Mali! Rua, do Mali!

22.03.2016

 

 




 

                                                                                                                                                                                              

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