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PAÍS

A Economia Verde: uma nova oportunidade para o capitalismo

Galamba vestiu o fato do negociador

CentralTermicaSinesVerde é a palavra de acesso aos grandes negócios que segundo o capitalismo permitirão recuperar a economia pós-covid, ou seja, proceder a uma reconfiguração da economia nacional. O sector energético é dos mais apetecíveis para o capitalismo que já se prepara, e em força, para fazer grandes investimentos, por exemplo, na produção do chamado hidrogénio verde (na verdade, este não é branco, nem azul, nem verde, nem cinzento; é o recurso a energias renováveis na sua produção, neste caso a solar e/ou a eólica que permite a electrólise, ou seja, a separação do hidrogénio do oxigénio a partir da água, que levam a esta designação). A central fotovoltaica de Sines terá uma capacidade e 1 gigawatt (GW); no entanto, produzirá apenas um oitavo da energia produzida pelas duas centrais termoeléctricas a carvão. O hidrogénio tem a vantagem de armazenar a energia durante grandes períodos de tempo, e de ser utilizado e transportado em pilhas de combustível.

Há que salientar que a energia gasta na produção de hidrogénio é sempre superior àquela que se recupera que é de cerca de 80% da que se gasta, ou seja a produção de hidrogénio obriga ao recurso de grandes quantidades de energia.


O Hidrogénio apresenta-se como o negócio do século.

Todos sabemos como o capitalismo e o respectivo modo de produção, tendo apenas como objectivo o lucro, explorou com consequências trágicas as diferentes fontes de energia fóssil. E nesta sua nova tentativa de reconfiguração também não vai mudar! Não, o capitalismo não se transformou repentinamente num amigo do ambiente, mesmo quando apoia e faz coro com os chamados defensores do ambiente e do clima, que deram uma ajuda preciosa para a criação destes novos negócios. O que aconteceu é que a chamada crise ambiental, decorrente dos desastres ambientais provocados pelo próprio capitalismo, criou um novo mercado, gerador de lucros fabulosos. Contudo, serão sempre as relações de produção dominantes no capitalismo que orientarão as relações ambientais do capitalismo!

Na verdade, o governo, ansioso sempre por bons negócios, viu na produção de hidrogénio o negócio do século XXI e, como é próprio da sua natureza, decidiu avançar seguindo os mesmos esquemas de sempre, ou seja, sem planificação e sem estudos rigorosos, mas certo de que o negócio lhe trará benefícios e lucros.

Afinal, estamos perante a continuidade do caminho seguido na exploração do lítio, como não podia deixar de ser, e não, como nos querem fazer crer, o relançamento de uma nova economia verde amiga do ambiente; como se o modo de produção capitalista o pudesse fazer!

E é nesta perspectiva de lucro, sempre sob a bandeira manipuladora, oportunista e hipócrita do “verde”, que o governo, através dos ministérios do Ambiente e Acção Climática (MAAC) de João Matos Silva, ministério da Economia e da Transição Digital de Pedro Siza Vieira e do Secretário de Estado adjunto e da energia, João Galamba, aproveitando a chamada transição da descarbonização, decidiu preparar e apresentar uma candidatura a Bruxelas no âmbito dos Projectos Importantes de Interesse europeu comum (IPCEI), que permitisse produzir, armazenar e distribuir o hidrogénio.

Mas recuemos um pouco no tempo.

Em Novembro de 2019, João Galamba, secretário de Estado adjunto e da energia, anunciou a criação de um mega projecto para produção de hidrogénio verde em Sines, (o encerramento da central termoeléctrica a carvão que devia acontecer em 2023 foi antecipado para Janeiro de 2021, com vista à produção do hidrogénio) – o H2 Sines, com a criação de uma central fotovoltaica, 1 gigawatt (GW).

Estão previstos, pelo menos, 3 500 milhões de euros no investimento durante os próximos dez anos (2020-2030), mas que se pode estender até 2050 (fim do período de transição da descarbonização), com mais capital, naturalmente.

O projecto conta com subsídios da União Europeia e dinheiros públicos dos governos envolvidos. Daí o salivar das empresas candidatas!

Rapidamente é constituído o consórcio que, será chamado projecto Flamingo Verde, resultante de uma parceria entre Portugal e a Holanda (Resiliente Group), em que participam entre outras, imagine-se, a EDP, a Galp, a REN, a Martifer, a Vestas Dinamarquesa (a maior produtora de turbinas eólicas) e, a holandesa Vopak (ligada a tecnologia para o armazenamento de hidrogénio), assim como o banco holandês ABN AMRO. E mais rapidamente se produz a legislação necessária à sua implementação.

Note-se que o projecto Flamingo Verde foi apresentado em Bruxelas no dia 15 de Janeiro de 2020, quando Ursúla van der Leyen apresentou o plano de transição da descarbonização da UE.

Também o sábio António Costa Silva, contratado, como sabemos, por António Costa, faz parte dos apoiantes do projecto, apresentando-o na sua “ Visão Estratégica do Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030” (meio para chegar ao Fundo de Recuperação, ou seja, aos 13.500 milhões de euros) como uma estratégia de peso para responder à crise financeira, económica e social provocada pela atual pandemia da covid-19.


A corrupção e o favorecimento no negócio das energias limpas

Um projecto com tais ambições e envolvendo tais verbas suscita e suscitou, desde logo, a ganância e o interesse ávido de grandes grupos empresariais, o que equivale a dizer corrupção e tráfico de influência e outros crimes financeiro-económicos, pelo que não é de admirar que o seu processo de constituição esteja a ser investigado, praticamente desde o início do mesmo, o ano de 2019, quando algum ou alguns dos candidatos se sentiu lesado e apresentou queixa, por favorecimento. De admirar é que a investigação decorra há um ano e ainda não tenha investigado nada, nem haja arguidos, com a habitual discussão se a investigação pertence à PJ ou o Departamento Central de Acção Penal (DCIAP).

E se Galamba, quando é indiciado de crime conjuntamente com o ministro da Economia Pedro Siza Vieira, se sentiu obrigado a correr e apresentar provas da sua inocência no caso, explicando que não se pode falar em corrupção, porque ainda falta muito para fechar o negócio…! Pois, mas o problema é que tudo começou no princípio do negócio e, pela preocupação demonstrada por João Galamba, é quase certo que se possa falar efectivamente em indícios de tráfico de influências e corrupção. E quem diz Galamba, diz todos os que estão metidos no negócio….

Podemos assistir a mais algumas voltas e reviravoltas na constituição do consórcio e o alargamento a outras empresas, mas o essencial está montado.

De referir que o hidrogénio produzido em Sines tem em vista, sobretudo, a exportação para os países nórdicos: do porto de Sines sai para o Porto de Roterdão, na Holanda, e daí para os países nórdicos.

Portanto, e para que fique claro, a produção de hidrogénio em Sines tem como grande objectivo a exportação e dela beneficiarão natural e especialmente as empresas do consórcio, ou seja, a EDP, a Galp, a REN e Martifer, isto é, as mesmas que já estavam no negócio da exploração das energias. Por isso, e contrariamente ao que Galamba afirmou a produção de hidrogénio não garante a autonomia energética a Portugal que continuará a importar electricidade e gás de Espanha e Marrocos. Aliás, até 2030, só metade do hidrogénio produzido será proveniente de fontes renováveis, a outra metade virá da energia nuclear, do gás natural e até do carvão (hidrogénio cinzento).

Galamba pode anunciar o projecto Sines H2, previsto no Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2023  (PNEC), como a solução milagrosa para a descarbonização da economia ao mesmo tempo que permite relançar a economia pós-covid, produtor de grandes benefícios, mas não diz uma palavra sobre as consequências dessa descarbonização nos sectores produtivos considerados mais poluentes, e que serão convertidos, nem que medidas vão ser implementadas para salvaguardar os operários e trabalhadores dessas mesmas empresas como, refinarias, postos de abastecimento de combustíveis indústria metalúrgica e metalomecânica, cerâmica, vidreira, transportes terrestres, marítimos e aéreos, etc, etc, assim como os trabalhadores das Centrais termoeléctricas Sines e do Pego.

Está praticamente terminado o prazo para apresentação da candidatura do Projecto na União Europeia – deveria acontecer ainda durante o ano de 2020 – e a investigação parece continuar na fase de inquérito. Será que o projecto é apresentado antes do final da investigação?

Pelo andar da carruagem, tudo indica que este vai ser mais um processo arquivado. Veremos.

O Modo de produção capitalista está esgotado!

Lutemos pelo modo de Produção Comunista!

25Nov2020

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