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CORRESPONDÊNCIAS

Plantando Sob Alerta Amarelo…

madeira01(Dos nossos correspondentes) No passado sábado, dia 13 de Dezembro, e conforme estava havia muito tempo agendado, realizou-se a última plantação deste ano de espécies da flora indígena no campo de educação ambiental do Cabeço da Lenha, a 1550 metros de altitude, na vertente sul e próximo do topo do Pico do Areeiro, na ilha da Madeira.

Sob a direcção do geógrafo e botânico Professor Doutor Raimundo Quintal, uma brigada de cerca de quarenta voluntários, na maior parte mulheres, da organização não governamental da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, arrancou às nove da manhã para o Cabeço da Lenha, sob alerta amarelo, o terceiro aviso mais grave numa escala de quatro, emitido pela Autoridade Nacional de Protecção Civil, devido à previsão de ventos fortes, com rajadas de cem quilómetros por hora, temperatura de zero graus Celsius e possibilidade de queda de neve nos locais da plantação, previsão que se revelou exacta e contra a qual tivemos de lutar, até que ficou cumprida a nossa tarefa pelas quatro horas da tarde.

Participou na brigada de plantação uma meia dúzia de voluntários estrangeiros que se vieram oferecer para o efeito (um casal alemão, uma austríaca e três britânicas), e que trabalharam denodadamente, como todos os outros companheiros aliás.

Às onze da manhã, foi distribuído chá quente em grande quantidade, e às catorze horas interromperam-se os trabalhos para o almoço: carne de porco de vinha de alhos - um prato típico da quadra do Natal nas ilhas da Madeira e do Porto Santo - com pão ensopado no molho, batatas assadas, acompanhado de água e sumos, com bolo de mel e café.

Foram plantadas trezentas plantas das seguintes espécies indígenas da Madeira: Loureiro (Laurus novocanariensis), árvore; Aipo-do-gado (Melanoselinum decipiens), herbácea; Ranúnculo ou Doiradinha (Ranunculus cortusifolius), herbácea.

A plantação de espécies da flora autóctone nas serras que, como o Cabeço da Lenha e o Pico do Areeiro, formam as cabeceiras das bacias hidrográficas de duas ribeiras – João Gomes e Santa Luzia – que modulam o anfiteatro do Funchal, é um trabalho da máxima importância para o povo da Madeira, em especial o da cidade do Funchal, mas que o governo da região abandonou e desprezou totalmente, mais preocupado com as obras de betão e de fachada que lhe rendem mais votos de eleitores ignaros e mais lucros às empresas locais de obras públicas.

A plantação de ervas e espécies herbáceas humildes naquelas altitudes destina-se a reter a pouca terra (solo) aí existente e a água do nevoeiro, das chuvas e da neve, obstando à formação de correntes devastadoras, que levariam tudo à sua frente.

Poucas árvores conseguem sobreviver ao frio e aos ventos e, no estio, aos calores verdadeiramente infernais daquelas altitudes, mas há, mesmo assim, duas ou três espécies arbóreas que o conseguem, justamente aquelas espécies que os voluntários da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal têm vindo a plantar todos os anos e todos os meses em cada ano, desde a década de 2000: o loureiro da Madeira, o cipreste da Madeira e a urze arbórea da Madeira.

A existência destas espécies arbóreas nas cabeceiras das bacias hidrográficas das ribeiras do anfiteatro do Funchal é decisiva para a retenção de rochas e outros materiais sólidos, regularizando os caudais das ribeiras e evitando a formação de aluviões catastróficas.

O trabalho dos voluntários da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, levado a efeito sob a sábia direcção do Professor Doutor Raimundo Quintal, lembra o comentário do poeta Teixeira de Pascoaes, a propósito da arborização da serra do Marão nos anos trinta do século passado: “é o mesmo que plantar cabelos com uma sovela na cabeça de um careca”…

No caso da Madeira, a tarefa de arborização e herborização das cabeceiras das bacias hidrográficas do anfiteatro do Funchal é ainda pior, pois trata-se de um verdadeiro trabalho de Sísifo, visto que quase todos os anos, ou uma tromba de água no inverno ou um incêndio no verão, e tudo o que os voluntários plantaram desaparece como uma nuvem passageira que num momento nos trai.

E não há mais nada a fazer senão voltar a plantar tudo de novo, erva por erva, arbusto por arbusto e árvore por árvore, segurando pedra a pedra, rocha a rocha, toda a pouca terra, o vestígio de solo, palmo a palmo. Todos os meses. Todos os anos.

Até à vitória final, que há-de acontecer um dia!

A brigada de voluntários do passado dia 13 de Dezembro tinha idades compreendidas entre 18 anos, uma mulher, e os 85 anos, um homem. Aliás, perante este último exemplo, os vossos dois dedicados correspondentes até ficaram a pensar que, talvez, ainda não fossem suficientemente velhos para já andarem a plantar ervas, árvores e arbustos, sob alerta amarelo, no Pico do Areeiro!...

 

A.C./A.M.

  

 

 

 

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Comentários   

 
# jldRoquete 20-12-2014 19:55
É um prazer a leitura de textos assim tão bem escritos!!!

...Pois...Pois! Mas certamente que o L.P. Online não pode arriscar perder dois importantes correspondentes na Madeira, quando eles arriscam a subir ao Pico do Areeiro sob alerta amarelo...Os homens não são deuses; e estes não existem?

Já fez publicar o L.P. Online vários importantíssimo s artigos sobre a Região Autónoma da Madeira, nestes últimos tempos.

Não seria de fazer uma colectânea desses artigos para os divulgar posteriormente, na Madeira.
´
Saudações aos nossos correspondentes na Pérola do Atlântico.
 
 
# aires esteves 21-12-2014 17:50
É de saudar estes nossos correspondentes , sem eles nunca tínhamos acesso a estas informações. Obrigado ao A.C./A.M.
 
 
# Luta Popular 22-12-2014 14:46
Nota da Redacção para jldRoquete:
Os nossos correspondentes A.C./A.M. são associados da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal.
 

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