CampanhaFundos202206

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INTERNACIONAL

Uma União Europeia em estado comatoso! 

Durante a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu defendemos a saída de Portugal da União Europeia e do euro. Explicámos as razões porque defendíamos esta posição e apontámos as soluções comunistas e operárias que deveriam ser adoptadas.

Afirmámos com determinação que o desmantelamento da União Europeia e do euro eram inevitáveis e que a sua desagregação ocorreria, independentemente da acção do PCTP/MRPP ou do advento de qualquer ruptura revolucionária.

Contextualizámos o Brexit como um episódio que opunha o imperialismo britânico aos imperialistas franceses e alemães, não sendo comparáveis às nossas exigências de saída de Portugal da UE e do euro, as exigências dos conservadores e outras forças políticas do Reino Unido.

Apesar de persistirem em tapar o sol com a peneira, os chamados europeístas – na Comissão Europeia, no Parlamento Europeu, ou fora destas instituições –apressaram-se a afirmar que, perante os resultados eleitorais, tinham vencido as forças da unidade e progresso europeus contra as forças populistas e nacionalistas.

O cúmulo do ridículo coube ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ao proferir um hilariante discurso, no qual afirmou que a Europa escapou ao “cataclismo populista” e os portugueses – num contexto de 70% de abstenção – tinham sufragado “de forma contundente” a escolha em partidos pró-europeus!!!

A realidade encarrega-se, porém, de contrariar esta onda optimista. A situação em França e as recentes ameaças da Comissão Europeia endereçadas à Itália por alegado procedimento de défice excessivo estão aí para evidenciar as contradições antagónicas que atravessam a tão aclamada convergência e a tão incensada união europeia.

Compilando os dados estatísticos disponíveis, o Observatório das Desigualdades acaba de publicar o seu terceiro Relatório sobre as desigualdades que se registam em França.

O Observatório sublinha que o Relatório agora publicado tenta demonstrar a ligação directa que existe entre a crescente contestação social em França e os dados recolhidos sobre salários, acesso à educação ou saúde, no contexto do movimento dos “coletes amarelos” (“gilets jaunes”) que não mostra sinais de desmobilização ou abrandamento.

Níveis de rendimento, acesso à escolaridade e à licenciatura, precariedade do emprego, esperança de vida ou práticas culturais, são os principais temas abordados neste Relatório. Não havendo muitos números recentes sobre a desigualdade de rendimentos, o Observatório teve de se apoiar, maioritariamente, em dados trazidos a público pela Insee, que datam de 2016. 

  • Dados eloquentes, que revelam que os 10% mais ricos obtêm 23,8% dos rendimentos. Porém, se tivermos em conta a vertente património, a diferença na distribuição dos rendimentos é ainda maior, com 1% dos mais ricos do país a deterem 17% do património. 
  • No último lugar da escala, cinco milhões de pessoas pobres vivem com menos de 855 euros por mês. A taxa de pobreza fixa-se em alta desde o início do ano 2000, que coincide com o início da adopção do euro como moeda única em França – e em praticamente todos os países da chamada União Europeia.

França que, segundo um estudo levado a cabo pelo Centre d’Études Politiques (CEP), sediado em Friburgo, na Suíça, foi um dos países que mais perdeu com a adesão ao euro. Nos cerca de 20 anos que leva de introdução do euro – 1999 a 2017 -, o impacto da moeda única na prosperidade em França traduziu-se por uma perda de 3.591 mil milhões de euros!

  • Apesar de uma ligeira diminuição registada entre 2011 e 2016, a taxa de pobreza, no período de 2006 a 2016, passou de 7,3% para 8%! 

É ainda difícil medir o impacto que tiveram as várias medidas tomadas pelo governo francês, no âmbito da presidência Macron, desde o início do quinquénio. No entanto, é muito provável que a reforma do chamado “imposto de solidariedade sobre a riqueza”, bem como da atenuação da sua imposição sobre os rendimentos dos mais ricos, tenha inflacionado os rendimentos dos mais ricos. 

No outro extremo do espectro, é possível que a anunciada abolição do imposto municipal (o correspondente ao nosso IMI), o aumento do prémio de actividade ou a velhice, tenham favorecido, ainda que de forma ténue, os rendimentos da população mais pobre. 

O Observatório denuncia que a “democratização social evoluiu pouco”, sendo que o número que mais se destaca neste capítulo é o da diferença exponencial na origem social dos estudantes do ensino superior, que sugerem um “determinismo social” em França que se traduz no facto de existirem

  • 2,9% vezes mais jovens filhos de quadros superiores do que filhos de operários nas fileiras do pós-secundário.
  • E, a Universidade não é excepção a esta regra. Os filhos dos operários representam 13% dos licenciados, 9% do mestrado e 7% do doutoramento!!! 

A desigualdade no trabalho está intrinsecamente ligada à evolução da actividade económica. A ausência de um crescimento económico dinâmico, agrava os níveis da desigualdade. As que mais preocupam os trabalhadores são as situações de precariedade do emprego que

  • passou de 12% para 13,6% no período de 10 anos, registando-se neste momento 8 milhões de trabalhadores em situação de sub-emprego. 

Outro indicador inquietante é a taxa de desemprego entre os jovens activos entre os 20 e os 24 anos.

  • Disparou para os 20,9%, depois de ter aumentado de forma pronunciada, entre 2001 e 2013, em 8,3 pontos percentuais! 

Um número ressalta, ainda, deste relatório. Segundo o Observatório para a Desigualdade,

  • 13 anos separam a esperança média de vida de 5% dos mais pobres (71 anos), dos 5% dos mais ricos (84 anos). Ainda segundo este relatório, “...as condições materiais de vida têm repercussões sobre a saúde, bem como sobre a duração da vida...”. 

Entretanto, e demonstrando que se agrava o clima de guerrilha inter-imperialista no seio dos países da União Europeia - que precede os grandes conflitos que se preparam entre as várias potências mundiais -, a Comissão Europeia, que mais não é do que um comité de negócios a mando do imperialismo germânico e dos seus interesses, revelou que se prepara para notificar o governo italiano – constituído a partir de uma coligação da direita com a extrema-direita italiana – de que irá proceder à abertura formal de um procedimento por défice excessivo.

O “Colégio de Comissários” , depois de ter endereçado vários avisos e ameaças ao governo italiano, considerou, esta 4ª feira, dia 5 de Junho, que se “justifica” tal procedimento, tendo em conta que a dívida de Itália está muito acima do que está previsto nas regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). 

Invocando os procedimentos estipulados pelo artigo 126.3 do famigerado Tratado de Lisboa – que elemento do povo português não se recordará da frase “...porreiro pá...” que o traidor Sócrates endereçou ao traidor Durão Barroso? -, no qual se define que “...se um Estado-Membro não cumprir os requisitos constantes de um ou de ambos estes critérios (défice e dívida), a Comissão preparará um relatório...” e um procedimento por défice excessivo deverá ser emitido. 

O que, quer o governo italiano, quer a Comissão Europeia escamoteiam é o facto de que as perspectivas de crescimento e o equilíbrio das finanças públicas terem piorado e as medidas políticas recentemente aplicadas por aquele governo terem provocado um retrocesso, um agravamento dos desequilíbrios macroeconómicos em Itália, se devem, precisamente, às mesmas causas que levaram Portugal à situação em que hoje se encontra. 

No caso de Itália, e ainda segundo o já citado estudo do CEP, o impacto da introdução do euro naquele país teve como resultado uma perda – no período que medeia 1999 a 2017 – de qualquer coisa como 4.325 mil milhões de euros!!! Enquanto na Alemanha, e no mesmo período, houve um ganho de 1.893 mil milhões de euros! 

Certo é que o tipo de burguesia que pontifica em Itália não é a mesmo que domina em Portugal – um sector da burguesia nacional compradora, parasitária, que vive da intermediação. Itália, ao contrário de Portugal, possui uma indústria de bens de equipamento e bens transaccionáveis, assente em empresas preparadas para a internacionalização e aquilo a que hoje se designa por “globalização” (um eufemismo para imperialismo). 

A crise que aquele país atravessa, deve-se, em grande medida, ao euro, cujas regras o impedem de ter uma política cambial e monetária soberana que lhe permita melhor gerir os seus fluxos e refluxos financeiros e exponenciar a sua competitividade face a mercados mais agressivos e não sujeitos ao garrote da moeda única. 

A União Europeia, como tivemos ocasião de explicar, é uma aliança inter-imperialista contra-natura, num espaço económico e político em que cada uma das potências em competição tenta agregar a si a maior fatia do bolo e o protagonismo de quem deve “conduzir” e “representar” a Europa no teatro da guerra imperialista mundial em preparação acelerada. 

É por isso que, sendo importante a imediata saída de Portugal da União Europeia e do euro, só o desmantelamento daquelas instituições ao serviço do imperialismo germânico é que poderá garantir alguma paz na Europa. A UE e o euro, hoje mais do que nunca, representam a guerra. 

O Brexit, a situação política e económica em França e Itália, a crise dos refugiados, são sinais mais do que evidentes de que, mais cedo do que se espera, seremos confrontados com a seguinte escolha: ou desmantelamos a UE e o euro...ou é a guerra que, de iminente, passa a real! 

06JUN19                                           LJ

 

 

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Dar Voz a Quem Não Tem Voz

Oeste

Um exemplo de liquidação do SNS

Recebemos de um nosso leitor a carta que expressa a preocupação quanto ao previsível encerramento do hospital de Torres  Vedras e que, abaixo, transcrevemos na íntegra 

Exmos Srs,

Meu nome é Patrick Francisco, tenho 46 anos, e sou residente em Torres Vedras.

Tomei a liberdade de deixar aqui uma reflexão sobre uma questão fundamental para os cuidados de saúde na Região Oeste de Portugal.

Um dos temas que tem suscitado grande preocupação entre os torrienses e em toda a Região Oeste, está relacionado com o acesso aos serviços hospitalares. Até agora, a Região Oeste tem sido servida por 3 Hospitais, nomeadamente em Torres Vedras, Caldas da Rainha e Peniche.

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