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PAÍS

O cheiro do dinheiro

No final de uma palestra sobre a presente situação económica no país proferida na Associação Cristã de Empresários e Gestores, o presidente da administração do Banco Português de Investimento (BPI), Fernando Ulrich, solicitado pelos jornalistas a apontar medidas para fazer face ao agravamento do défice público recentemente divulgado, defendeu a aplicação novas medidas de austeridade, precisando desta forma o seu pensamento:

É evidente que eventuais medidas desse tipo serão duras para muitas pessoas e que aqueles para quem já foram duras no passado são aqueles que têm menos capacidade para poder enfrentar mais medidas, mas há sectores de actividade e segmentos da população que ainda têm alguma margem de manobra”.

O senhor Ulrich é presidente multimilionário de uma instituição falida, o BPI, para a salvação da qual (e de outras quejandas) servirão as novas medidas de austeridade que defende. Poucos dias depois de proferida a dita palestra, o governo PSD/CDS utilizava mais 5.650 milhões de euros do tesouro público para “capitalizar” aquele banco, mais o BCP e a Caixa Geral de Depósitos, num exercício que se vem repetindo destinado a socializar os custos das falências fraudulentas destes bancos.

O senhor Ulrich sabe que as medidas de austeridade que já foram tomadas e as que por aí virão se abatem exclusivamente sobre as classes trabalhadoras e se destinam apenas a alimentar a voragem do grande capital financeiro que ele representa. E sabe também, ele e os demais chefes da banca, qual é a situação financeira de todo e qualquer dos agregados familiares e pessoas isoladas que compõem a população trabalhadora portuguesa. Eles contam-nos os tostões, vasculham os saldos e movimentos das contas bancárias, e reúnem-se depois com os governantes para, em conjunto, se porem de acordo sobre quais os sectores dessa população em que existe ainda alguma “margem de manobra” para ser sacado mais dinheiro dos parcos rendimentos que ainda sobram. Essa margem de manobra inclui não apenas a redução dos salários e rendimentos para o nível estrito da reprodução da força de trabalho, como também a privação de condições mínimas de subsistência para a população considerada “excedentária”, designadamente os reformados e idosos, bem como uma parte substancial dos trabalhadores desempregados.

Que não haja ilusões. Quando a classe capitalista e os economistas seus lacaios dizem que os trabalhadores vivem “acima das suas possibilidades”, o que querem significar é que a população trabalhadora deve ser, na sua maioria, mantida em situação de pobreza. Para essa gente, a parte do rendimento global colocada à disposição das classes trabalhadoras não deve ultrapassar o estrito montante que é determinado pela luta fratricida dos próprios trabalhadores entre si, quando aceitam salários de miséria para tentar sobreviver. A dívida pública e o seu pagamento constituem o principal instrumento de que a classe capitalista se serve para tentar impor às classes trabalhadoras essa dura lei da concorrência pelo emprego e pelo salário, reduzindo ao mínimo o valor deste último e transferindo para o capital a maior parte da riqueza produzida pelos trabalhadores.

Na presente situação política, o repúdio da dívida pública representa por isso o eixo principal em torno do qual tem de ser construída a unidade política dos trabalhadores e das suas lutas. Fiam-se os Ulriches, a tróica e o seu governo que o oportunismo no seio do movimento operário e popular conseguirá durante todo o tempo obscurecer a justeza da palavra-de-ordem “Não pagamos!”, dando-lhes assim a margem de manobra de que necessitam para virem continuamente aos bolsos das famílias trabalhadoras e sacar-lhes até ao último tostão das suas economias. Mas estão redondamente enganados.

Nada nem ninguém conseguirá suster a crescente consciência das massas trabalhadoras sobre os objectivos imediatos que devem nortear a sua luta: o derrubamento do governo PSD/CDS, a expulsão da tróica e a constituição de um governo democrático patriótico que repudie a dívida pública, que retire o país do euro, que nacionalize a banca e os principais sectores da economia, e que ponha em prática um plano de desenvolvimento económico contra os interesses de rapina do grande capital e pelo bem-estar das classes trabalhadoras.


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