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PAÍS

Importam-se de repetir?

2012-09-29-manifestacao-cgtpUm dos problemas fundamentais que a luta revolucionária dos trabalhadores portugueses tem de resolver é dotar-se de uma direcção firme, clarividente e ousada que saiba apontar inequivocamente o caminho da luta contra o imperialismo, o grande capital e os seus lacaios. É nos antípodas dessa atitude que se encontram os dirigentes do PCP e da Intersindical.

O discurso do secretário-geral da CGTP/Intersindical ontem, no Terreiro do Paço, no término da grande manifestação convocada por esta central sindical contra a tróica e contra o governo de Passos Coelho, é um exemplo acabado de confusão ideológica e de indefinição táctica e programática. É na verdade um daqueles discursos que levam as pessoas a questionar-se sobre se valeu a pena ir à manifestação e se a Intersindical alguma vez conseguirá dar corpo à exigência da maioria dos trabalhadores e do povo português de pôr o governo e a tróica na rua e de construir um governo alternativo, democrático patriótico.

Perante centenas de milhar de pessoas que estavam ali para exigir o derrube imediato do governo, Arménio Carlos afirmou, entre outras coisas do mesmo género, que “se o governo não ouvir a bem, ouve a mal, com a exigência da sua demissão e a alteração de políticas”. Trocando por miúdos: o governo deve ouvir a voz do povo e mudar de política; se não ouvir, a Intersindical faz voz grossa e exigirá a sua demissão. A forma embrulhada como o secretário-geral da Intersindical disse esta enormidade não consegue iludir o enorme passo atrás que representa perante o estado actual da consciência das massas trabalhadoras.

Arménio Carlos e a Intersindical encontram-se naquela que é para eles uma grande embrulhada. As massas exigem-lhes a convocatória de uma greve geral para derrubar o governo. Depois de muitas delongas, lá se vai realizar, a 3 de Outubro próximo, um conselho geral extraordinário da central sindical para decidir esta convocatória. Vai ser preciso apontar um objectivo para a greve geral, que não pode ser outro senão o derrube do governo. Será difícil agora fugir com o rabo à seringa. Se não apontar este objectivo à greve geral, a Intersindical arrisca-se a perder o apoio dos trabalhadores que diz representar.

O fundamento das hesitações e tergiversações da Intersindical está nas posições políticas dos seus dirigentes e nas do partido que de perto a controla. Prisioneiro da sua ideologia pequeno-burguesa e da herança da linha oportunista e derrotista protagonizada por Álvaro Cunhal, o PCP preocupa-se acima de tudo em dar de si próprio a imagem de um partido “responsável”. Ainda esta semana, no parlamento, o seu deputado Honório Novo se esforçava por convencer o governo a “ouvir a bem” as propostas do partido. “A renegociação da dívida é o primeiro passo para honrar os compromissos do país”, afirmou o deputado do PCP. E acrescentou: “Queremos que se tome a iniciativa de renegociar porque queremos pagar a dívida legítima (…) E com a tróica o país não pode pagar dívida nenhuma”. Uma posição muito “responsável”, de facto.

Quando os operários e o povo trabalhador dizem “Derrube do governo!”, o PCP e a Intersindical apelam à “calma”. Quando aqueles afirmam “Não pagamos!”, estes respondem “Pagamos, sim senhor!”. Assim não se vai a parte nenhuma. Se a situação política não fosse tão grave e não exigisse a unidade de todas as forças que se opõem ao governo e à tróica, nenhum tempo haveria a perder com tamanhos dislates, a não ser para denunciar implacavelmente os seus responsáveis. Julgando que vão na primeira linha do movimento operário e popular, os dirigentes do PCP e da Intersindical estão na realidade a ser levados ao colo por esse movimento, situação que, evidentemente, não poderá durar sempre.


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