INTERNACIONAL
O espelho grego
- Publicado em 05.01.2012
Os senhores da Europa – quer-se dizer, os imperialistas alemães – têm tratado da mesma maneira os casos das dívidas soberanas de Portugal e da Grécia. Como o tratamento começou primeiro na Grécia, tudo o que se passou na Grécia é o espelho do que veio a ocorrer ou irá ocorrer em Portugal.
Os alemães, servindo-se da política económica imposta à CEE e, posteriormente, à União Europeia, liquidaram a agricultura da Grécia e de outros países periféricos e procederam à sua desindustrialização imediata.
Deixando-os sem economia produtiva, serviram-se então os imperialistas alemães dos seus bancos, do euro (que é um marco travestido) e da política monetária da Eurolândia para esmagarem os países mais vulneráveis, com uma dívida soberana em crescimento exponencial e descontrolado.
Quando as dívidas soberanas dos países mais fracos alcançaram a paridade com os respectivos produtos internos brutos, ou seja, quando a dívida externa, em crescimento contínuo e imparável, alcançou o nível total da riqueza produzida no país, os imperialistas alemães enviaram a esses países os seus homens-de-mão, os tecnocratas da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, generalizando no velho continente o vocábulo russo tróica, para indicar o corpo de ataque do imperialismo germânico no controlo desses países.
A última reunião do Conselho Europeu aprovou a agenda alemã para a conquista da União Europeia, agenda que foi rejeitada pelo Reino Unido, mas que foi aprovada por todos os governos lacaios do imperialismo alemão, como é o caso do governo português de traição nacional PSD/CDS.
A cimeira do Conselho Europeu do próximo mês de Março realizará o take over (golpe-de-mão) da Alemanha sobre os países da Zona Euro e da União Europeia, com excepção do Reino Unido.
A tudo isto levou, como agora facilmente se compreende, a sagacíssima gestão da dívida pública soberana de (quase) todos os países da União Europeia pelo imperialismo alemão, através dos seus bancos e dos seus monopólios.
A tróica, conjugada com os governos lacaios em cada país, assegura o domínio perpétuo do imperialismo alemão sobre o Continente. Convirá recordar que hoje, em toda a União Europeia, só há governos de direita e de extrema-direita, irmãos gémeos do governo a que preside a chancelerina Merkel. A própria Tróica também muda governos, como sucedeu com os governos Sócrates e Papandreo, que foram forçados à demissão.
Quando a Tróica, em Outubro último, entrou na Grécia e depôs Papandreo, acenando com um perdão da dívida e um novo empréstimo de 130 mil milhões de euros – que era a cenoura oferecida!... – e um novíssimo (o quinto, no espaço de dois anos) pacote de austeridade – que era o bastão prometido! –, todos os lacaios da chacelerina embandeiraram em arco, porque, tão generosamente como se viu (?!), tinham, de uma só penada, salvado o marco – perdão, o euro! – e salvado a Grécia da dívida e dos seus tormentos...
Claro está que ninguém de bom-senso acreditou nessas balelas e, muito menos, o povo grego que respondeu de imediato, através de uma poderosíssima greve geral.
A greve geral grega deixou o novo governo da Tróica, encabeçado pelo tecnocrata Lucas Papademos, impossibilitado de aplicar o novo e ruinoso pacote de austeridade.
À demora de Papademos, respondeu a Tróica com a retenção da cenoura acima descrita, deixando a Grécia em situação de falência.
Tudo isto se vai repetir em Portugal neste ano de 2012, porque a política aqui aplicada pela Tróica da chancelerina é a mesma que tem estado a ser aplicada pela Tróica na Grécia.
Acontece que, na passada terça-feira, o porta-voz do governo grego – do Sr. Lucas Papademos – avisou por mail a chancelerina de que ou a Tróica desbloqueava os 130 mil milhões de euros previstos no acordo de Outubro ou a Grécia sairia do euro!.
Note-se que a Tróica afastou Papandreo da chefia do governo grego quando o socialista pretendeu referendar o acordo obtido em Outubro, e, designadamente, a permanência ou não dos gregos na Zona Euro. E Papademos que, por causa da ideia do referendo, substituiu Papandreo, menos de dois meses depois está a avisar, por mail, o imperialismo alemão que, mesmo sem nenhum referendo, a Grécia abandonará o Euro, se não chegarem imediatamente os 130 mil milhões prometidos.
Como se vê, não há forma nenhuma que permita aos países endividados pagarem a sua dívida soberana. E basta observar o espelho da Grécia, para concluir que Portugal também nunca pagará a sua dívida, por mais que a Tróica tenha ao seu lado todos os traidores portugueses que, além da dupla Coelho/Portas, incluem ainda todos os dirigentes políticos que acham que o País tem o dever de a pagar, em cujo lote se incluem Seguro, Louçã e Jerónimo (imaginem, o pobre Jerónimo tem medo de dizer que não paga a dívida!...).
Mas há, desde já, um ponto em que o espelho grego não refletirá Portugal: é que, em Portugal, os traidores são de tal ordem que nunca terão coragem de dizer á chancelerina, e muito menos by mail, que Portugal vai abandonar o Euro.
Mas é o que vai acontecer! Entretanto, não se esqueçam: Não Pagamos!
Lisboa, 05 de Janeiro de 2012