CampanhaFundos202206

IBAN PT50003502020003702663054   NIB 003502020003702663054

Hotel Turismo da Guarda

A saga do Hotel Turismo da Guarda vai assumindo, a cada dia que passa, contornos cada vez mais nítidos de um típico e repugnante caso de polícia.

Em 2010, o Governo da República, através do Turismo de Portugal, adquiriu à Câmara Municipal da Guarda o Hotel Turismo, desembolsando para tal uma verba de 3,5 milhões de euros. A concretização desta transacção envolveu o compromisso de a nova entidade proprietária recuperar totalmente o edifício, reabrir o hotel e utilizá-lo como centro impulsionador de múltiplas iniciativas ligadas à hotelaria e ao turismo na cidade e na região, incluindo a instalação de uma escola profissional de características inovadoras, bem como uma incubadora de empresas destinadas a operar nesta área de actividade, tudo isto a ser concretizado no espaço de três anos (até 2013), através do recurso a fundos comunitários a fundo perdido.

Na altura, os vereadores do PSD na Câmara Municipal da Guarda criticaram o negócio de venda do Hotel Turismo afirmando que, àquele preço de 3,5 milhões de euros, haveria empresários privados interessados na compra do mesmo e que teria sido preferível apostar na capacidade de iniciativa desses empresários para recuperar e reabrir o hotel. Na sua posição crítica, os vereadores do PSD nunca puseram em causa a “avaliação de mercado” do valor da transacção, até porque essa avaliação correspondeu na verdade a uma acentuada subvalorização do imóvel. Só o facto de a operação merecer credibilidade e corresponder a um projecto que, a concretizar-se, seria muito importante para a Guarda, inspirou alguma compreensão face à mencionada subvalorização do Hotel Turismo.

Entretanto mudou o governo, veio a austeridade da tróica e o próprio executivo do PS na Câmara Municipal da Guarda, na atitude subserviente que sempre o caracterizou, nunca exigiu do novo governo a concretização do projecto que tinha subscrito e avalizado, mesmo sabendo que o mesmo era passível de ser financiado por fundos comunitários a fundo perdido. Foi assim que, em 2013, em lugar de a Guarda ver reabrir o Hotel Turismo, assistiu atónita à afirmação do candidato autárquico do PSD/CDS, Álvaro Amaro, de que, se fosse eleito, defenderia a venda do Hotel Turismo a uma entidade privada e que o Turismo de Portugal deveria cobrar por essa venda apenas um “preço simbólico” (sic).

Sob o lema de uma “devolução do hotel à cidade”, o que Amaro defendeu nessa altura representaria um acto gravemente lesivo do erário público e indiciaria a existência de um crime a merecer investigação imediata por parte do Ministério Público. Fosse, por exemplo, a Câmara Municipal da Guarda a adquirir um imóvel por 3,5 milhões de euros e, três anos depois, vender esse imóvel a um privado por um “preço simbólico”, e os negócios mais condenáveis e ilícitos que tiveram a CMG por protagonista, desde o caso do matadouro até ao da Quinta da Maúnça, seriam meras brincadeiras de crianças perante tal utilização dolosa e fraudulenta do poder e dos dinheiros públicos.

Acontece que o pesadelo ameaça agora tornar-se realidade, aparecendo Álvaro Amaro como uma fonte de informação privilegiada e um intermediário do “negócio do século”, à escala da Guarda, entre um certo “investidor privado”, ávido de aproveitar o “preço simbólico” do Hotel Turismo, e o Turismo de Portugal, este pronto a deitar fora, como se nada fosse, a diferença entre 3,5 milhões de euros e o tal “preço simbólico”, o qual terá já entretanto descido para 850 mil euros, ou seja, um quarto do que o Turismo de Portugal pagou pelo Hotel Turismo há cinco anos atrás.

À medida que o escândalo da entrega do Hotel Turismo ao tal “investidor privado” se aproxima do seu termo, vai ganhando força a tese de que tudo estaria já planeado, pelo menos desde a campanha eleitoral autárquica de 2013, quando Álvaro Amaro prometeu “devolver o Hotel Turismo à cidade” e antecipou o “preço simbólico” da sua venda. Com tanto descaramento como sentimento de impunidade, Amaro vai agora assumindo o papel de quem está a controlar a passo e passo o andamento do negócio que há dois anos anunciou. Marcada para 30 de Abril último, pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, a hasta pública de venda do Hotel Turismo por um preço-base de 1,7 milhões de euros, com o compromisso de, no prazo de quatro anos, o novo proprietário recuperar e reabrir o hotel e manter o seu funcionamento como unidade hoteleira pelo período mínimo de trinta anos, logo veio Amaro informar, alguns dias antes daquela data (?), que não iria aparecer nenhum comprador. Depois, na inauguração da Feira Ibérica do Turismo, no mesmo dia 30 de Abril, e perante o silêncio cúmplice do primeiro-ministro Passos Coelho, Amaro informou que, dentro de um mês, o Hotel Turismo será de novo levado a hasta pública, agora pelo preço irrisório de 850 mil euros, e que o negócio poderá deixar de conter o compromisso antes referido de reabrir o hotel e garantir o seu funcionamento pelo período de trinta anos.

Perante tamanha desfaçatez e quando já começa a ouvir-se gritar “Ó da Guarda!”, veio o antigo presidente do Turismo de Portugal, Jorge Patrão, que enquanto tal celebrou, em 2010, o contrato de compra do Hotel Turismo à Câmara Municipal da Guarda, colocar-se fora da tramóia, não vá o diabo tecê-las, assinando, naquela qualidade e também na de secretário do Partido Socialista, uma “carta aberta” na qual explica os termos do dito contrato e acusa os responsáveis pela trafulhice que agora está em curso de porem em causa o interesse público e de “cedência a interesses privados mal conhecidos”. Trata-se evidentemente de uma acusação gravíssima que o autor deveria concretizar antes que a dita “cedência” se concretize, na medida em que, mesmo que “mal”, ele conhecerá alguma coisa do mal-cheiroso negócio.

A nós, guardenses, revolve-se-nos o estômago perante a enormidade de mais este crime que está em curso contra o povo do concelho e contra todo o povo português que, com os seus impostos, é obrigado a sustentar a parasitagem que lhe assalta permanentemente os bolsos. A náusea com que ouvimos Álvaro Amaro, apadrinhado por Passos Coelho, anunciar os termos em que o Hotel Turismo vai ser, não “devolvido à cidade”, mas sim entregue quase de graça a um “investidor” bem relacionado, só tem paralelo com o nojo que foi ouvir, escassas horas depois, o mesmo Passos Coelho, em Aguiar da Beira, elogiar, como “pessoa de bem” e como “empresário de sucesso”, um dos principais responsáveis pela vigarice de quase sete mil milhões de euros praticada pelo clã cavaquista no BPN, o crápula Dias Loureiro.

Basta de roubos e de imposturas! Devolver o Hotel Turismo à Guarda significa, nas actuais circunstâncias, exigir que seja posto termo ao processo da sua venda fraudulenta à custa do dinheiro dos contribuintes, e significa exigir ao governo que cumpra o acordo que serviu de base à sua aquisição pelo Turismo de Portugal. O Hotel Turismo é um bem público e deve ser colocado ao serviço da Guarda e dos guardenses!

Partilhar